• A política da insensibilidade

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  • 16/05/2021 08:00
    Por Ataualpa Filho

    A saúde ética da Nação precisa de uma UTI.Às vezes, deparamo-nos com fatos que causam perplexidade pelas inconsequências que apresentam, pela distância do bom senso e pairam na insensibilidade de quem vê apenas os próprios interesses, não demonstrando nenhuma consideração pelo bem-estar da coletividade.

    Com mais de 430.000 óbitos provocados pela Covid-19, temos ainda a tristeza de encontrar pessoas que pretendem transformar a pandemia em palanque eleitoreiro. É insana a exploração política deste período pandêmico. Neste caos, querer beneficiar-se politicamente, discutindo o que não foi feito,e sem fazer o que deve ser feito para estancar o número de mortos afetados por essa doença, que abalou o mundo, trata-se de um oportunismo perverso que explora a dor de um povo.

    Quando gestores públicos, buscando explicações para justificar o que não foi feito, sem se preocupar com as urgências do momento, torna-se mais visível o trágico do descaso na saúde pública. É claro que as responsabilidades pelas omissões, pelas negligências, pelas ilicitudes devem ser apuradas e os ônus devem ser cobrados judicialmente. Mas não se pode mudar o foco do problema. Ainda falta vacina, os insumos são precários, os hospitais precisam de mais atenção e o número de mortes evitáveis é imenso.Não é possível aceitar pacificamente tanta indiferença diante do clamor de uma população que não quer morrer à míngua.

    A defesa da vida se coloca em primeiro lugar, porque é o bem maior que nós temos. Por essa razão, a morte não pode ser banalizada e analisada na frieza das estatísticas. Basta ter um pouco mais de sensibilidade humana para entender que a indignação é inevitável.

    Para externar melhor o que penso sobre o cenário político do nosso país no presente momento,transcrevo um trecho do capítulo do capítulo CXVII do livro “Quincas Borba” do mestre Machado de Assis. Uso desse recurso, pois não tenho o dom de escrever com “a pena da galhofa e a tinta da melancólica” como Brás Cubas, que teve oportunidade de conhecer bem o “Humanitismo”, explicitado no capítulo CXVII de suas memórias:

    “Basta um contozinho que ouvi em criança, e que aqui lhes dou em duas linhas. Era uma vez uma choupana que ardia na estrada; a dona, — um triste molambo de mulher, — chorava o seu desastre, a poucos passos, sentada no chão. Senão quando, indo a passar um homem ébrio, viu o incêndio, viu a mulher, perguntou-lhe se a casa era dela.

    — É minha, sim, meu senhor; é tudo o que eu possuía neste mundo.

    — Dá-me então licença que acenda ali o meu charuto?”

    E assim vejo tantas pessoas querendo acender o “charuto” na desgraça dos outros, da dor de um povo, tentando colher dividendos políticos em plena pandemia, sem se preocupar com o sofrimento da população menos favorecida. Essa é a minha perplexidade. De um lado, encontramos aqueles que se omitem, boicotam, sabotam, portanto, contribuem, de certa forma, para a inoperância no combate à doença; de outro, surgem aqueles que querem tirar proveito do caos. 

    E aqui reafirmo que não há espaço para o xiitismo de direita nem de esquerda. A teoria do “quanto pior melhor” dos que apagam incêndio com gasolina, dos que só botam lenha na fogueira não ajuda em nada, apenas revela uma insensibilidade social, pois quem mais sofre é a população mesmo favorecida, mais dependente das ações solidárias.

    No momento, a união de forças ainda é a melhor saída. Precisamos de paz para salvar vidas.

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