• Brasil, o país dos absurdos

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  • 26/01/2017 12:00

    A impressão que tenho é que quando se ouve a frase “um acontecimento absurdo” faz-se logo uma relação com o Brasil. Nem sempre é justo, claro, mas não deixa de ter grandes possibilidades. A construção do estádio do Maracanã, também conhecido com estádio Mário Filho, para que pudéssemos promover a Copa do Mundo de 1950, foi um absurdo para o momento em que vivíamos. O prefeito do Rio de Janeiro, que na época era o Distrito Federal, General Mendes de Morais, driblando todas as nossas eternas prioridades (escolas e hospitais), assumiu para si a responsabilidade da grande empreitada que era a de construir o maior estádio de futebol do planeta. 

    O povo brasileiro, normalmente mal esclarecido, encheu-se de orgulho. Afinal, o futebol sempre foi o ópio do povão. O Brasil precisava de uma bela sede para ser campeão do mundo. A sede ficou pronta e imponente, mas, para uma de nossas maiores decepções, o título não foi obtido. Se foi injusto por um lado, foi um castigo, por outro. Nossa seleção era a melhor, mas o povo precisava mais do que um estádio de futebol. Por ironia, fomos campeões do mundo quatro vezes, em distantes países, mas precisávamos ser campeões em nosso território. Para promovermos uma nova Copa, o estádio do Maracanã, então maior do mundo, já não nos servia, de acordo com as novas exigências da FIFA, órgão que comanda o futebol mundial. 

    Apesar das inúmeras reformas e da quantidade de dinheiro empregado em obras superfaturadas, o Maracanã, na verdade, nunca ficou completamente pronto. E agora, precisaria ser reconstruído. E o mais grave: precisaríamos construir outros grandes elefantes brancos para as demais sedes e o estado do Amazonas, que mesmo não tendo tradição com o futebol, foi um dos escolhidos como sede. Finalmente, sessenta e tantos anos depois, o estádio do Maracanã ficou inteiramente pronto. Eu, que fui à sua inauguração em 1950, não o reconheci, depois da sua mais recente reforma. Sim, recente reforma, porque muitas outras hão de vir. Hoje o Maracanã é um gigante sem pai e sem mãe. E como órfão, está abandonado. A última vistoria feita constatou que túneis, vestiários, salas, vidros, esquadrias e gramado, estão destruídos ou desaparecidos em face de roubo e má conservação. 

    Sumiram as fiações, os computadores, extintores, mangueiras e dezenas e dezenas de outros bens. De quem devemos cobrar? Quem pagará esta conta? O povo, claro, que é sempre quem paga pelos desmandos do desgoverno. Bandeira de Melo, presidente do Clube de Regatas do Flamengo, quer administrar o Maracanã para o campeonato carioca de futebol. Com que moral, já que preside um clube com mais de 40 milhões de torcedores pelo mundo, e que nunca teve um estádio próprio de futebol?  Não é mais um absurdo? Concluindo: para que se possa jogar futebol no estádio do Maracanã, com direito  a receber o número máximo permitido de torcedores, há que se fazer mais uma grande reforma no gigante dilapidado, para lágrimas de desgosto de Mario Filho, o saudoso desportista que empresta seu nome pra o estádio.

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