Por que a marca dos primeiros 100 dias importa nos EUA?
Cerca de 40 dias antes de assumir a presidência americana, em dezembro de 2020, Joe Biden prometeu que aplicaria 100 milhões de doses de vacina contra covid-19 nos 100 primeiros dias de seu mandato. A meta marcava o que o então presidente eleito buscava anunciar como vitória em uma data na qual ele já sabia que seria cobrado por suas ações, como aconteceu com todos os presidentes americanos nas últimas oito décadas.
Não há uma previsão legal para que presidentes prestem contas após 100 dias de governo, mas um compromisso carregado desde o governo de Franklin D. Roosevelt. Ao assumir o país em meio à Grande Depressão, Roosevelt emplacou uma série de ações regulatórias e projetos de lei ousados para conter a crise e indicar os novos rumos do país.
Neste período, Roosevelt suspendeu um feriado bancário nacional, forneceu socorro econômico a desempregados, começou a desenhar o que veio a se tornar o New Deal e aprovou um recorde de propostas legislativas: 76 projetos de lei.
Em um pronunciamento de rádio na época, Roosevelt cravou a data, ao falar dos seus “primeiros 100 dias”. A produtividade de FDR, como o ex-presidente é chamado, se tornou um marco para presidentes americanos. Mas poucos, desde então, emplacaram uma agenda de mudanças tão ambiciosa quanto o responsável por inaugurar esse marco. Segundo analistas, Ronald Reagan foi um dos que chegou mais próximo. Outros marcaram uma mudança geracional ou de estilo e política relevantes com relação ao antecessor.
Quando Barack Obama assumiu a Casa Branca, assessores do presidente minimizaram, em entrevistas, o marco de 100 dias e compararam a data a feriados comerciais — lembrados nos comerciais, mas sem um significado genuíno. Na época, os mais próximos ao presidente diziam que era absurdo achar que ele poderia controlar em alguns meses “uma recessão de 100 anos, um colapso bancário, duas guerras e um mal-estar global”, segundo a imprensa da época.
A produtividade e capacidade de aprovar projetos caiu desde Roosevelt e variou nas últimas décadas a depender da composição partidária no Congresso. Os avanços de 1933 são considerados exceção, mas os presidentes tentam aproveitar a lua de mel inicial para emplacar sua agenda e comemorar o marco.
Os presidentes também aproveitam a popularidade após a eleição para adotar uma série de medidas executivas que não dependem do Congresso e revisar políticas de seus antecessores. Na média da história moderna americana, presidentes assinaram mais ordens executivas nos 100 primeiros dias de mandato do que nos 100 subsequentes.