• No fim do fim do mundo

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  • 17/01/2017 11:00

    “Vem aí outra megadelação” é a manchete de capa da revista Veja, que circulou neste passado fim de semana. Trata de uma nova leva de delações de executivos da Camargo Corrêa, já em negociação com a Procuradoria-Geral da República, na esteira do que fez a Odebrecht.

    Com informações preliminares, há quem diga que não ficará pedra sobre pedra, com o envolvimento direto de mais de 200 políticos,  com e sem mandato, dentre senadores, deputados e ex-governadores. Surgem nomes de figuras importantes do governo de Michel Temer, a partir do próprio presidente, citado em situações no mínimo desconfortáveis.

    Segundo a publicação, em suas novas delações, a “Camargo Corrêa promete até exumar o cadáver da Operação Castelo de Areia, que tinha a construtora no centro do escândalo – uma engrenagem que envolvia corrupção, evasão de divisas e lavagem de dinheiro – e que foi abortada pela Justiça. Quando isso ocorreu, porém, já se sabia que Temer aparecia 21 vezes nas planilhas, ao lado de outros figurões da República, como os ministros Gilberto Kassab (PSD) e Mendonça Filho (DEM) e os senadores Renan Calheiros (PMDB) e Romero Jucá (PMDB)”. Acresc enta a revista que a “superdelação também trará novos problemas para Antônio Palocci, principal interlocutor da empreiteira nas gestões do PT”, para concluir que se “Brasília já não dormia pela expectativa da delação da Odebrecht, apelidada de ‘fim do mundo’, o clima vai ficar ainda mais tenso: o mundo pode acabar duas vezes”.

    Os depoimentos em colaborações premiadas, além de apanhar expressões de políticos com atuação relevante no plano federal, extrapolam a caminho dos estados da Federação, com a incriminação direta de ex-governadores e de agentes públicos imbrincados em tramoias locais. A Camargo Corrêa contratou e realizou obras de vulto pelo Brasil afora, com a movimentação de alguns bilhões de reais, em cima de fatos que certamente comporão as novas delações de seus diretores e empregados implicados nas negociações escusas.

    Ao subirmos no mapa do Brasil, onde os sistemas de controle padecem de lassidão histórica, é que veremos o tamanho do rombo nos cofres públicos. A voracidade não tem limites e faz com que Cabral & Cia. não passem de trombadinhas, no Rio de Janeiro, frente ao assalto gigantesco perpetrado em ações criminosas no Norte-Nordeste do país. Há joalherias reunidas por ex-primeiras-damas, com valores de milhões e milhões de reais, que deixam no chinelo as joias de Adriana Ancelmo, apreendidas pela Polícia Federal. Há décadas que as grandes empreiteiras investigadas pela Lava-Jato atuam nessas re giões, com o pagamento de propinas e comissões a políticos, sem jamais sofrer o menor constrangimento ou qualquer incômodo, a não ser o de suportar cobranças em valores cada vez mais elevados.

    Nessas áreas, a corrupção sem freios promove verdadeiro genocídio sobre populações extremamente vulneráveis, em estados que amargam carências de toda ordem. Numa situação dramática, recursos são drenados e deixam de ser aplicados em saúde, saneamento básico, educação, segurança e transporte público, enquanto uma minoria de assaltantes amealha fortunas fantásticas subtraídas do erário.

     O maior desafio para os tribunais superiores, especialmente para o Supremo Tribunal Federal, será julgar todos esses processos, em razão do foro privilegiado por prerrogativa de função, antes que as ações sejam fulminadas pela prescrição. Já está na hora de acabar de vez com essa excrescência, que socorre muitos criminosos do mundo da política, deixando-os para sempre livres da sanção judicial.

    paulofigueiredo@uol.com.br

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