Shoppings reabrem em São Paulo com filas para celular e café
A nova fase do plano de flexibilização da quarentena, entre a vermelha e a laranja, com a abertura de shopping centers e lojas de rua em horários reduzidos, teve bom movimento na capital, de acordo com as entidades do setor. O Shopping Center Norte, um dos principais da cidade, localizado na zona norte, teve filas nas lojas de telefonia celular e nas cafeterias no final da tarde deste domingo, 18. Havia poucas vagas no estacionamento principal.
As atividades religiosas, também com horários reduzidos, foram permitidas a partir deste domingo. Pelas novas regras anunciadas pelo governo João Doria (PSDB), restaurantes, academias, salões de beleza, atividades culturais e parques podem reabrir a partir do dia 24 de abril. O toque de recolher, das 20h às 5h, foi mantido.
As lojas podem receber no máximo 25% da capacidade nesta fase. Por isso, as lojas do Center Norte fixaram cartazes com o número permitido de clientes para seguir a regra. Para respeitar a regra, as lojas de telefonia celular, por exemplo, algumas das mais concorridas neste primeiro dia, formavam pequenas filas na entrada. A maioria não atingiu a lotação permitida.
O casal de namorados Pedro Mariano, de 23 anos, e Carla Pereira, de 21 anos, foi comprar um celular novo para ele. Tiveram de esperar 15 minutos pelo atendimento na loja da Claro. “Hoje, o aparelho é uma ferramenta de trabalho. Eu estava contando as horas para poder comprar outro. Tinha de ser hoje. O shopping faz falta”, diz o representante comercial da área de cama, mesa e banho.
As cafeterias também foram bastante procuradas. Nesta fase, o atendimento presencial não é permitido, apenas o take away (comprar e levar). Restaurantes permanecem fechados. Com isso, a praça de alimentação, um dos principais atrativos dos shopping centers, também está desativada. Por causa da falta de um lugar para comer, a família do empresário Luis Augusto Martins, de 62 anos, desistiu da refeição. “Talvez eles possam colocar um número reduzido de mesas”, sugeriu.
O movimento neste primeiro dia é resultado de uma demanda reprimida, na opinião dos lojistas. “A quantidade de atendimentos foi menor, porém com um tíquete médio maior. Por isso, a conclusão de uma demanda reprimida. Tivemos 50% a mais nas vendas”, explica Maria de Fátima Arruda, sócia proprietária de uma loja da Puket, marca de roupas e acessórios.
A boa movimentação também foi a tônica em outros endereços. De acordo com a Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop), as unidades em São Paulo registraram “movimento de razoável para bom”. “Estive no Shopping Morumbi, para comprar um aparelho, e havia movimentação importante”, disse o presidente da entidade, Nabil Sahyoun. “Existe uma demanda reprimida depois de 30 dias com as lojas fechadas. Naturalmente, as pessoas têm necessidade de compra.”
Durante o período de restrição ao atendimento presencial, a maioria dos estabelecimentos vem apostando nas vendas online e outros canais, como whattsapp e também drive thru e delivery. Nesse contexto, Guilherme Marini, diretor executivo do shopping Center Norte, criou um centro de entregas para acelerar a transição dos lojistas para o universo digital. A maioria, no entanto, afirma que nada se iguala ao faturamento que temos com a loja aberta.
A limitação do horário, das 11h às 19h, fez com o que shopping anunciasse o fim das atividades a partir das 18h30. Às 19h, todas as lojas estavam fechadas.
Quinze minutos depois do horário, a reportagem do jornal O Estado de S. Paulo foi convidada pelos seguranças a se retirar do shopping “para evitar multa do Doria”. A mudança do horário é a principal reivindicação do setor. Em vez de ser de 11 horas às 19 horas, a categoria pretende que o comércio funcione de meio-dia às 20 horas.
O passo seguinte seria pedir o retorno do horário integral e do funcionamento presencial de lanchonetes, salões de beleza e academias nas semanas que antecedem o dia das mães. Hoje, os serviços estão restritos. “As negociações têm sido frequentes. Acho que é importante o governo continuar com essa linha de ouvir as entidades do setor”, diz Sahyoun.
“Dentro da lógica do Centro de Contingência, se ampliar o horário, você dá liberdade ao consumidor para se espalhar mais. Restringir é que aumenta o risco de aglomeração”, disse. “De toda forma, os shoppings respeitam 20 protocolos, têm corredores largos e áreas com 100 mil m². É o lugar mais seguro do segmento.”
Retorno promissor
Em geral, a flexibilização que não estava prevista originalmente no Plano São Paulo agradou representantes de entidades comerciais. “Vimos com bons olhos essa reabertura. Não deixa de ser um avanço, porque já ajuda poder abrir por 8 horas”, afirmou Sahyoun. “Agora, a gente tem de trabalhar para, a uma ou duas semanas do dia das mães, pleitear o horário normal”.
Vice-presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio-SP), Francisco de la Tôrre diz que retorno é “promissor”, mas ainda estaria aquém da necessidade do setor. “Existe um desgaste muito grande por causa da situação econômico-financeira. As empresas estão muito combalidas”, afirmou. “A expectativa era de poder trabalhar com taxa de ocupação de 40%.”
De la Tôrre, no entanto, pondera que a ocupação dos leitos de UTI ainda é alta em São Paulo. “Nessa situação, ou o governo dava apoio financeiro às empresas ou fazia uma reabertura bastante regrada, muito tímida. Ele optou pelo segundo, o que já é um aceno”, disse. “Nas fases mais restritivas, faltou esse apoio do Estado e do governo federal. Muitos não vão reabrir porque já quebraram.”