Elementar, minha “cara” D. Dilma
Há poucas semanas Da. Dilma fez um pronunciamento em favor da volta da CPMF, desafiando quem tivesse sugestão melhor para resolver o problema financeiro do país. Como não foi divulgada qualquer sugestão, simplesmente respondo à presidente: Elementar, minha cara D. Dilma.
Há mais de trinta anos trabalhei numa pequena firma, de pouco mais que 50 funcionários, quando um dos diretores descobriu que o tesoureiro, seu amigo, estava extrapolando e denegrindo o nome da firma com seus fornecedores. Demissão imediata, chamando o funcionário mais antigo que nada tinha a ver com o setor mas confiável e pediu para ver se resolvia o problema. Obviamente o indicado fez logo retenção de despesas, redução no prazo de faturamento – era a época da inflação galopante – e o mais importante: atacar os clientes inadimplentes. Por sorte, conseguiu uma pessoa especialista no assunto e por demais confiável. Conclusão – o que se apresentava como um desespero para a empresa se transformou num refresco em 60 dias. Assim se faz, assim se age, quando se tem uma equipe, mesmo de poucas pessoas, mas sérias, responsáveis e eficientes.
Da, Dilma parece que, ao longo de sua vida, nunca teve o aperto de equilibrar seu orçamento caseiro como qualquer trabalhador faz. Talvez ela e seu ministro da fazenda ignorem que existam centenas ou milhares de empresas devedoras dos mais variados impostos. E certamente ela não possui uma equipe de fiscais sérios como na firma que trabalhei. É sabido que grandes empresas são inadimplentes nos mais variados impostos, a começar na Receita Federal e, principalmente, na Previdência Social. Mas se ela não ignora – então o assunto é grave – só poderá estar protegendo alguns milhares de apaniguados e querendo descarregar suas “benesses” na classe trabalhadora.
Não é justo, D. Dilma! Mais uma vez, invoco a fábula de La Fontaine, que nem deve conhecer:
“Um dia, a peste se abateu sobre todos os animais. Os que sobreviveram reuniram-se em assembleia, presidida pelo Rei Leão, a fim de encontrarem uma solução para o grave problema. Sua Majestade propôs que todos confessassem seus crimes, e que o mais culpado fosse sacrificado aos céus para afastar a peste. Para dar o exemplo, o soberano da selva confessou que devorara vários carneiros, e até saboreado um pastor. Mas a Raposa, ladina, interveio: “ Ora, Majestade, matar carneiros não é crime. Ao contrário, destes a essa vil espécie a honra de servir de alimento a uma criatura tão nobre quanto vós”. Todos aplaudiram concordando com a Raposa. E as confissões se seguiram, sempre achando desculpas que transformavam os crimes em boas ações, até que chegou a vez do Asno: “ Senhor, confesso, comi muitas vezes a erva dos prados”. Diante de tal confissão, a assembleia se levantou, irada: “ Comeu a erva dos prados ?! Mas que horror! Então é por esse crime que todos nós estamos pagando – morte ao malvado”! E o pobre Asno, por unanimidade, foi condenado ao sacrifício.
Assim o poeta via os homens, já no século 17, com a nobreza indolente, para não ter de trabalhar, preferindo bajular o Rei e garantir seu sustento em troca de elogios fingidos. O Rei estava, pois, cercado de uma corte de parasitas e hipócritas, onde a esperteza e o engodo eram condições essenciais de sobrevivência. A conclusão é melancólica e amarga: no fim, é o forte que vence; é a violência ou a astúcia que dominam”.
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