• “The Nevers” estreia na HBO propondo paralelos entre a era vitoriana e a atual

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  • 11/04/2021 13:15
    Por Mariane Morisawa, especial para o Estadão / Estadão

    As mulheres da série The Nevers podem até usar corseletes, saltos e cabelos cuidadosamente penteados, como é esperado das mulheres na Inglaterra vitoriana. Mas a maior parte das personagens da atração, que estreia neste domingo, 11, às 22h, na HBO e na HBO Go, com novos episódios toda semana, não se encaixa nos moldes da época.

    No centro da trama estão a cientista Penance Adair (Ann Skelly) e uma viúva boa de briga, Amalia True (Laura Donnelly). “O que mais me chamou a atenção foi justamente Amalia não ser a mulher típica deste período”, disse Donnelly, em entrevista com participação do Estadão. “Para mim foi muito empolgante estar numa história de época fazendo uma personagem que jamais apareceria num drama como este, usando aquelas roupas, mas sendo rebelde e falando o que pensa.”

    Penance e Amalia não são apenas mulheres à frente de seu tempo. Depois de um evento misterioso, elas fazem parte de um grupo chamado de “touched” (ou “tocados”), tendo adquirido poderes extraordinários e, claro, a reação chocada, preconceituosa e violenta da sociedade conservadora. Penance enxerga formas de energia, enquanto Amalia vê flashes do futuro e luta como a Viúva Negra. As duas moram com outros desses mutantes, a maioria mulheres, num orfanato que remete à escola do Professor X, de X-Men.

    The Nevers, afinal, é criação de Joss Whedon, que abandonou a série depois dos seis primeiros episódios alegando motivos pessoais. Coincidentemente ou não, na época ele estava sendo investigado pela Warner (que faz parte do mesmo conglomerado que a HBO) sobre sua conduta no set de Liga da Justiça, criticada pelo ator Ray Fisher e corroborada por outros membros do elenco. Pouco depois da saída, Whedon foi acusado de assédio e de criar um ambiente tóxico em Buffy, a Caça-Vampiros, exibida entre 1997 e 2003.

    O elenco de The Nevers jura não ter presenciado nada do tipo na produção, que foi interrompida também pela covid-19 (por conta disso, seis episódios dos dez programados vão ao ar num primeiro momento).

    Para tornar as coisas mais complexas e confusas, a série quer ser um ataque bastante direto ao patriarcado branco, heterossexual, classista e racista da era vitoriana, com uma maioria de personagens femininas que lutam contra o status quo. “A opressão de então era sistêmica, mas os inimigos eram evidentes”, disse Donnelly. “Hoje, talvez não sejam tão óbvios. Mas existem. Ainda temos um longo caminho a percorrer.”

    Para o ator Tom Riley, que faz Augie Bidlow, um aristocrata que esconde sua condição de “tocado”, é ótimo que os atuais roteiros coloquem a temática em discussão. “Às vezes a sensação é de estar num oceano de mudanças, o que pode fazer alguns se sentirem incomodados. Mas isso não significa que não seja maravilhoso. Se você se sente incomodado, tente se perguntar o porquê, repensar e se juntar a todos num futuro inevitável que só pode ser melhor do que o presente.” James Norton, que faz o Lorde Swann, um aristocrata pansexual, acredita que os debates dentro da própria indústria são necessários, e que a transformação é inevitável. “A mensagem da série é que, como sociedade e como pessoas, só cresceremos se enfrentarmos essas questões.”

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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