• Técnicos alemães dominam as quartas de final da Liga dos Campeões

  • 06/04/2021 10:24
    Por Fabio Hecico, especial para a AE / Estadão

    Os confrontos das quartas de final da Liga dos Campeões têm uma curiosa semelhança. Em todos eles um dos times é dirigido por um técnico alemão. Os treinadores do futebol tetracampeão mundial estão em alta por propostas de jogo vistosas, arrojadas e extremamente ofensivas. Não à toa, três deles entram com leve favoritismo e o quarto tem enorme condição de surpreender. Há a chance de as semifinais serem somente entre comandantes germânicos. Os dois últimos campeões foram dirigidos por treinadores da Alemanha, que podem chegar à 10.ª conquista na história da competição, igualando os espanhóis e ficando atrás apenas de italianos, com 11 taças.

    Os técnicos alemães que estão na briga pela Liga dos Campeões são: Hans-Dieter Flick (Bayern de Munique), Jürgen Klopp (Liverpool), Edin Terzic (Borussia Dortmund) e Thomas Tuchel (Chelsea).

    O Bayern de Flick, atual campeão de tudo, terá pela frente o Paris Saint-Germain, perigoso, empolgado e com sede de vingança. O técnico espera levar a melhor sobre o bom argentino Maurício Pochettino. Será um duelo com sentimento de revanche após os alemães ganharem a final da edição passada por 1 a 0, frustrando os sonhos de Neymar e Mbappé.

    Apesar de o Bayern de Flick jogar no 4-2-3-1 no papel, na maioria das vezes o que presenciamos é um surpreendente e arriscado 3-2-5 e até 3-1-6. Apenas os zagueiros se mantêm mais na defensiva. O time parece um rolo compressor, com os laterais Davies ou Alaba e Pavard surgindo a todo instante como pontas, e os volantes Goretzka e Kimmich se tornando meias por vezes. Com Gnabry, Coman ou Sané e Müller colados em Lewandowski (desfalque de peso nas quartas de final por lesão), os gols surgem a todo momento. É pressão na saída de bola, velocidade e muita gente atacando.

    São 19 jogos de invencibilidade do Bayern na Liga dos Campeões, com 18 vitórias, um empate e 69 gols anotados. Na atual edição, a média é de três bolas na rede por partida, o que dá leve favoritismo aos poderosos campeões.

    “(Esse destaque) Acredito ser, principalmente, pelo tempo de trabalho, a continuidade que os técnicos têm. Esse é o segredo. Claro que tem a metodologia de trabalho, a agressividade, a intensidade, mas principalmente a continuidade que os diretores de lá dão para eles realizarem seu trabalho”, afirma ao Estadão o técnico Jorginho, tetracampeão mundial com a seleção brasileira em 1994 e que defendeu o Bayern de Munique como jogador.

    O ex-atacante Paulo Sérgio, de Corinthians e seleção brasileira, que atuou por quatro temporadas na Alemanha defendendo Bayer Leverkusen e Bayern de Munique e hoje é comentarista na RedeTV, também vê no tempo de preparação um diferencial dos treinadores do país. “Sou até suspeito de falar, pois joguei lá e acompanhei bem de perto. Eles sempre fazem um trabalho de médio e longo prazo com os técnicos e isso faz os resultados aparecerem”, diz. “Antigamente falavam que o futebol alemão não era atrativo e hoje, muito pelo contrário, estão jogando bem e bonito. Graças aos treinadores, que são bem preparados e cobram muita determinação e um futebol vistoso de seus atletas.”

    O Liverpool de Jürgen Kloop caiu muito de produtividade no Campeonato Inglês e acabou “deixando de lado” a competição para se dedicar à Liga dos Campeões. Em busca do seu segundo título europeu no clube – venceu em 2019 -, o treinador aposta em um trio ofensivo e na velocidade em contragolpear.

    Os Reds são implacáveis como visitantes na atual edição, ganhando três dos quatro jogos que usou os titulares. Despachou o Ajax na Holanda, fez 5 a 0 na Atalanta, na Itália, e nas oitavas freou o ótimo RB Leipzig com contundente 2 a 0 na Alemanha. E esperam repetir a dose na casa do Real Madrid, o maior campeão da Liga, de Zinédine Zidane.

    A rapidez de cruzar o campo e balançar as redes dos rivais deve ser a tônica do jogo. Klopp é especialista em contra-ataque. Jorginho vê Liverpool e Bayern de Munique como os maiores candidatos ao título. “Pela continuidade, acaba, naturalmente, com um ou outro tendo destaque maior. Klopp levou quatro anos para conquistar um título no Liverpool, e Flick já vem há algum tempo como auxiliar na seleção, no Bayern, e conseguiram agora desenvolver um trabalho com suas metodologias nos treinamentos.”

    CONFIANÇA EM ALTA – Correndo por fora aparecem outros dois alemães: Edin Terzic, do Borussia Dortmund, e Thomas Tuchel, que sofreu apenas uma derrota desde que assumiu o Chelsea, há 15 partidas. Um terá a ingrata missão de tentar frear a boa fase do Manchester City, enquanto o outro chega confiante diante do Porto, sobretudo pelo poder de sua defesa.

    Tuchel, vice-campeão com o PSG ano passado e eleito o técnico de março na Inglaterra, quer levar o Chelsea à segunda conquista da Europa. E, para isso, investe num esquema de enorme marcação, eficácia no ataque e defesa intransponível. Desde que substituiu o ídolo Frank Lampard, o alemão revolucionou os Azuis com muito papo com todo o elenco, orientações táticas dos rivais e mudança no esquema do 4-2-3-1 para um seguro 3-4-2-1. Com o meio com mais peças, a equipe aumentou a pressão aos oponentes e fica sempre mais perto do gol.

    Atrás, sofrer gols virou coisa rara. Ao longo das 10 vitórias, quatro empates e somente uma derrota sob seu comando, o Chelsea foi vazado somente sete vezes. E estava invicto com Tuchel até sábado, quando teve sua primeira derrota após ter o brasileiro Thiago Silva expulso injustamente com apenas 29 minutos, em Stamford Bridge, quando vencia por 1 a 0.

    Para o treinador, um “acidente de percurso” com erro de arbitragem. Quer que o time esqueça o atípico 5 a 2 para o West Bromwich (não perdia do rival em seus domínios desde 1979) e repita tudo de bom realizado nos outros 14 jogos. Como os duelos com o Porto serão em campo neutro por causa da pandemia do novo coronavírus, ambos em Sevilha, na Espanha, ele voltará a investir na tática de marcar bem atrás e ser preciso na frente.

    “Os treinadores alemães vêm conseguindo resultados bons na Bundesliga e também na Europa graças a suas táticas de cobrar empenho e jogo bonito”, avalia Paulo Sérgio.

    Edin Terzic assumiu um instável Borussia Dortmund em dezembro de maneira interina. O torcedor do clube, de 38 anos, tinha a missão de melhorar o desempenho do time, que não embalava. Ele ainda sofre mas, avançou às quartas da Liga dos Campeões despachando o Sevilla e está nas semifinais da Copa da Alemanha. No Alemão, em quinto, briga por vaga à Liga de 2021/22.

    Confiante nos gols de Halland, o Dortmund investe pesado nas inversões de jogadas e na pressão ofensiva imposta por Thorgan Hazard, Sancho e Brandt. Se tem um ataque positivo, a defesa passará por uma grande teste diante do embalado e favorito Manchester City de Pep Guardiola. Com oito gols sofridos em cinco jogos, Terzic sabe que o setor terá de ser preciso para o time surpreender.

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