A adrenalina da caridade
Fazer o bem faz bem. Rejuvenesce a autoestima, revigora o músculo coração, além de ser um “santo remédio” contra a depressão, pois a pessoa encontra, dentro de si, algo que possa levá-la a uma ação solidária. E, por meio desta, é possível descobrir que viver vale a pena.
Gosto desta característica do povo brasileiro: estar sempre disposto a ajudar a quem necessita.
Toda vez que há uma catástrofe, uma situação de calamidade pública, surgem campanhas solidárias para angariar donativos destinados aos desabrigados e desalojados.
Na segunda-feira, presenciei uma cena inesquecível: um amigo passou um carro, que tanto cuidou com carinho desde 1995, para uma pessoa que nem conhecia. A alegria com que ele deu esse carro foi tão grande que me sensibilizou. O referido veículo é uma raridade, tem apenas 77 mil km rodados. Ele doou para a Pastoral de Rua, que o sorteio. O dinheiro desse sorteio será usado na reforma da Chácara Nossa Senhora Aparecida, uma casa que acolhe moradores de rua, fundada pelo Padre Quinha.
Essa ação entre amigos apurou um total de R$ 16.590,00. O bilhete premiado foi o de número 6.390. A pessoa contemplada já ajudava a obra; vendia, com descontos, pães para o café e lanche dos acolhidos. Ele a conheceu por meio de outro colaborador que trabalha em uma loja de material de construção. São pessoas simples que, no anonimato, realizam um valioso trabalho voluntário.
“Evitai praticar as vossas boas obras diante dos outros para serdes vistos por eles. Do contrário, não tereis nenhuma recompensa do Pai que está nos céus. Quando, pois, deres esmola, não vás tocando trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem louvados pelos outros. Eu vos garanto: eles já receberam a recompensa. Mas quando deres esmola, não saiba a mão esquerda o que faz a direita. Assim a tua esmola se fará no oculto e teu Pai, que vê no oculto, te dará o prêmio.” (Mt. 6, 1-4)
Sei que é importante manter a discrição nos atos solidários. Mas narro esses fatos aqui, porque, vendo ações como essas, temos a certeza de que nem tudo está perdido. Há esperança, existem homens de boa vontade.
Sabemos que a violência é que ocupa as manchetes dos jornais: os homicídios, os latrocínios, os sequestros, o terrorismo, o tráfico de drogas estão nas primeiras páginas. Os gestos de amor nem sempre são destaques nos noticiários.
Neste período natalino, os gestos de solidariedade aumentam. “Há mais felicidade em dar do que em receber” (At 20,35). Por isso afirmo que há uma adrenalina, uma satisfação imensa quando nos sentimos úteis, quando temos a certeza de que fizemos o bem, sem nenhum interesse, sem querer nada em troca.
Quando as ações são realizadas no expresso sentido da palavra caridade, não se pensa nas retribuições. Ao fazer o bem, não se olha a quem.
Nem sempre são os mais pobres que precisam de caridade, pois esta não se restringe ao suprimento de bens materiais. Há um número muito grande de pessoas, embora tenham um privilegiado poder aquisitivo, estão mergulhadas em depressões, distantes da felicidade. Não têm a alegria de viver, pois não encontram paz dentro de si. São dependentes dos antidepressivos, quando não entram no mundo das drogas ilícitas.
Não tenho dúvida, a paz interior traz o equilíbrio emocional. E essa paz tem as suas raízes no amor. Não precisa ser cristão para amar. O amor é inerente a todo ser humano. Mas ninguém pode dizer que é cristão sem amar o próximo. E a fé sem caridade é inócua.