• Cidade de Serrana entra em fase final de vacinação em massa

  • 30/03/2021 15:44
    Por José Maria Tomazela / Estadão

    A vacinação em massa da população de Serrana, no interior de São Paulo, contra a covid-19, entra na fase final esta semana com a aplicação da segunda dose em dois grupos que ainda não foram imunizados. Até esta segunda-feira, 29, dos 28.380 moradores que aderiram ao projeto, 27.710, ou 97,6%, já receberam a dose inicial. Destes, 12.669 (44,6%) que integram os grupos verde e amarelo tiveram também a segunda aplicação da vacina Coronavac. Até o dia 11 de abril, serão vacinados com a segunda dose os grupos cinza e azul, encerrando a vacinação.

    O projeto, desenvolvido pelo Instituto Butantan, é inédito no País e vai avaliar a eficiência da vacinação quando aplicada em massa na população. Por enquanto, já se sabe que o índice de transmissão do vírus na cidade teve redução de 40% após o início do projeto, mas ainda não é possível afirmar se foi resultado da vacinação. “A taxa de positividade era de quase 50% e hoje está em 30%, mas os dados são preliminares e pode haver influência de outros fatores. Acompanhamos os valores desde setembro e essa oscilação já aconteceu em outras ocasiões”, disse a médica infectologista Natasha Nicos Ferreira, pesquisadora do projeto.

    Conforme Natasha, que é médica do Hospital Estadual de Serrana, parceiro do projeto, a imunização deve ser concluída em duas semanas, porém são necessárias mais duas semanas para começar a avaliação dos resultados. “Como os primeiros vacinados já receberam as duas doses, é possível que tenhamos alguns resultados na primeira semana de maio. É o que esperamos”, disse.

    Segundo ela, o Projeto S, como denominou o Butantã, corresponde à fase 4 dos testes da Coronavac no Brasil. “A vacina já tem comprovação de eficácia, mas é preciso ver como ela funciona em nível populacional, quanto vai cair a taxa de positividade, de casos graves, de internação e óbitos.”

    Estudos clínicos mostraram que a Coronavac tem taxa de eficácia de 50,38%. Os pesquisadores envolvidos com o projeto querem saber se essa eficácia é mantida, ampliada ou reduzida quando o imunizante é aplicado em uma população inteira.

    Após vacinar todo o público alvo, eles ainda precisam esperar até 20 dias, o tempo de resposta do organismo aos anticorpos gerados pelo imunizante. “A vacinação do Projeto S termina no dia 11, mas os resultados devem sair somente em maio”, informou a prefeitura.

    A cidade, de 45.844 habitantes, fica vizinha a Ribeirão Preto e foi escolhida para o projeto por ter um grande fluxo intermunicipal de pessoas, além de possuir um hospital estadual ligado à Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo (USP).

    A vacinação é voluntária e está sendo aplicada apenas em pessoas com 18 anos ou mais. Grávidas, lactantes e portadores de comorbidades não são vacinados. A população foi dividida em quatro grupos – verde, amarelo, cinza e azul -, para a chamada vacinação em ondas, ou seja, um grupo por semana. Os participantes serão acompanhados por um ano.

    Uma das respostas que os pesquisadores esperam obter já nas próximas semanas é se o grupo imunizado primeiro teve redução de casos antes dos outros. O dado pode ajudar a definir qual a melhor estratégia para imunizar a população quando não há vacina para todos.

    O estudo pode responder, por exemplo, se vale a pena usar todas as doses de uma vez, sem reservar para a segunda aplicação, para ampliar o alcance da imunização. Também deve definir com qual porcentual de vacinação se atinge a chamada imunidade de rebanho. Hoje, acredita-se que a imunidade coletiva acontece com a vacinação de pelo menos 60% da população.

    Por se tratar de um estudo científico, o projeto de Serrana não depende das vacinas oferecidas pelo Programa Nacional de Imunização (PNI). As doses foram produzidas especialmente para a pesquisa, segundo o Butantan.

    Foi aberto o cadastramento exclusivamente para moradores da cidade. Do total de cadastros aprovados, 670 pessoas não receberam a primeira dose. Conforme a prefeitura, isso aconteceu por terem sido detectadas comorbidades não relatadas no momento do cadastro, ou devido à gravidez, ou porque tiveram sintomas antes da aplicação da vacina, ou ainda por simples desistência, já que a adesão foi voluntária.

    A dona de casa Nadia Helena Tartaro, que está no grupo amarelo, já recebeu as duas doses e se disse contente com a imunização antecipada. Ela recebeu a segunda dose no último dia 24, quando fez 59 anos. “Foi um presente e tanto. Estou muito bem e, principalmente, muito feliz por ter participado da pesquisa que vai ajudar outras pessoas”, disse.

    O jornalista Tiago Bonnah, de 20 anos, recebeu a primeira dose no dia 20 de fevereiro e a segunda no dia 21 deste mês. “Na segunda dose me deu um pouco de cansaço e dor de cabeça no dia seguinte, mas passou sem tomar remédio. Acho que foi uma reação normal. É crucial no momento que a gente vive participar desse projeto. O estudo que vai sair daqui deve proporcionar grande avanço no combate ao coronavírus”, disse.

    Serrana registrou, até esta segunda, 3.339 casos positivos de covid-19, resultando em 73 mortes desde o início da pandemia. A cidade tem 30 pessoas internadas, 75 em isolamento e investiga outros nove óbitos.

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