• A poesia de Paulo Roberto Damico

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  • 14/12/2016 12:00

    Celebrar uma pessoa e decantar seus feitos não é simplesmente ufanismo e nem mesmo o culto à vaidade ou um elogio fugaz que se destrói no decurso do tempo pela ferrugem. Hoje em perfunctória apreciação de seu rico currículo pincei uma nuança não somente do bom filho, irmão, esposo,  pai, mestre,  pensador, ensaísta, historiador, expert da iconografia e tantos mais. Não falarei pormenorizadamente do Professor de História e Geografia pela Universidade Católica de Petrópolis que exerceu o magistério estadual e municipal por mais de três décadas Darei voz e vez ao coração do inspirado  poeta que  figura nas antologias “Salvados do Incêndio”, “Anuário de Poetas Petropolitanos” – 1987 e “Nossos Poetas” 2 e um incontável número de jornais e periódicos especializados na área literária. Nesta resenha lhes apresento um belo poema de sua lavra que se constitui em verdadeiro lamento num momento em que se clama pela preservação da natureza tão castigada fato que tem provocado discussões em nível mundial  em diuturnas reuniões de líderes políticos e religiosos a exemplo da preocupação de sua Santidade o papa Francisco em recente alocução sobre o tema sustentabilidade.

     Fiquemos com Paulo Roberto Damico em  LAMENTO: “Por que Velho Chico, com suas águas turvas e cristalinas, aparentemente calmas e traiçoeiras, semeadura de vidas e prosperidades, levou de roldão para suas profundezas um grande artista de nome nacional? Oh! Velho Chico, rio da unidade nacional, seu passado é um dos mais ricos da historiografia brasileira, que remonta aos mais antigos acontecimentos de nossa época colonial. Os caminhos percorridos pelas suas águas, durante séculos, quem diria? Roubaria de cena um dos principais artistas, do consagrado elenco de novelas, de sua emocionante história. O Velho Chico estava sendo representado em telenovela, com toda a riqueza e sutileza de detalhes. 

    Seriam os derradeiros capítulos de uma grande epopeia. Um monumental trabalho novelístico, que, infelizmente, não pode ser concluído, como foi idealizado… A sua presença magistral já não estava mais ali, com todo o brilhantismo de sua magnífica atuação! O mundo artístico parou perplexo, no dia 15 de setembro de 2016,  diante da trágica notícia e de tamanha fatalidade. Era o fim de uma vida, repleta de valores, que foi levada pela violência e insensatez de suas águas! Domingos Montagner: porque sua vida foi ceifada bruscamente pelo velho rio, sempre dadivoso e tão hospitaleiro, que não relutou, sequer, em levar consigo o seu talento e sua admirável arte, entristecendo a todos que o admiravam e o amavam? Domingos Montagner: talvez o Velho Chico, já cansado e maltratado, testemunha viva de tantas histórias emocionantes,  em um de seus maiores momentos de crueldade, resolveu levá-lo definitivamente, arrebatando-nos, furtiva e dramaticamente, com todo o seu carisma e o imenso valor artístico que sempre encenava? E assim, mútua e intimamente, se abraçaram para sempre, nos deixando com muita tristeza, imensas e profundas saudades…” É isso amigo Damico. A vida tem desses mistérios.

     O Rio São Francisco levou o grande ator, assim como as águas poluídas de tantos outros mananciais e lagoas a exemplo da Rodrigo de Freitas vez por outra noticia  a morte de cardumes… E neste mesmo fio condutor tristeza como essa trazida no belo poema “Lamento” brotada de seu estro poético foi a queda do avião na madrugada de segunda feira ceifando mais de setenta vidas e poupando quatro ou cinco delas que estão sob cuidados médicos. A morte os resgatou e com eles os seus sonhos e projetos de sucesso e fortuna. Saímos de casa sem a menor ideia de que poderá ser a derradeira vez. 

    Por isso vivamos enquanto é tempo na certeza de que tudo ficará aqui. Só levaremos ao juízo final as obras. O bem ou o mal. A escolha é nossa. E as consequências também. Mas Damico hoje é o dia de “Lamento” e de louvação a sua poesia que vem em celofane e belo laço de pura seda. 

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