Guilherme Boulos: ‘Diferenças na esquerda são menores do que as com Bolsonaro’
Após disputar a eleição presidencial de 2018 e a Prefeitura em 2020, o líder do MTST, Guilherme Boulos, de 38 anos, se consolidou como um líder nacional do PSOL. Cotado para representar o partido novamente numa disputa presidencial, ele disse que a volta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao cenário eleitoral “altera o jogo” para 2022. “A política que eu e muita gente no PSOL defende é de construir unidade. Não dá para ter táticas eleitorais como se o Brasil estivesse andando normalmente”, disse ele ao Estadão. “Tem de ter juízo e responsabilidade de colocar os projetos pessoais em segundo plano diante da necessidade do País superar este pesadelo.”
O PSOL, pela primeira vez, trava um debate interno sobre a possibilidade de apoiar Lula em 2022. Como a entrada do ex-presidente no tabuleiro eleitoral muda o cenário para a esquerda?
Esse debate ainda não começou no PSOL. Nosso foco agora é debater 2021, é construir uma unidade de ação da oposição para enfrentar os dilemas de 2021. É claro que isso tem impacto nas eleições de 2022.
Como Lula elegível muda a correlação de forças na esquerda?
Isso altera o jogo. Nós vimos as reações do (presidente Jair) Bolsonaro. Mas o foco para nós agora é discutir uma unidade da oposição em 2021, o que facilita muito a construção de uma unidade para 2022. A política que eu e muita gente no PSOL defende é de construir unidade. Não dá para ter táticas eleitorais como se o Brasil estivesse andando normalmente. Existe um risco democrático real. O Brasil está em pandarecos em termos econômicos e sociais. Isso exige uma responsabilidade histórica para buscar unidade para superar este pesadelo do Bolsonaro.
A entrada de Lula no cenário tem potencial para reunir a esquerda em torno dele?
Eu defendo uma unidade da esquerda desde agora. Essa unidade se constrói desde já e eu defendo que ela se traduza em uma unidade da esquerda e centro-esquerda em 2022.
O sr. estava no Sindicato dos Metalúrgicos quando Lula foi preso e quando deu a primeira entrevista após ter os direitos políticos restabelecidos. Essa é uma sinalização de que o PSOL está mais próximo do PT do que em outros momentos?
Num momento como esse é evidente que aquilo que a oposição tem de unidade se coloque à frente das diferenças. As nossas diferenças internas na esquerda são muito menores do que as nossas diferenças com o Jair Bolsonaro. O ambiente para a unidade é muito maior agora do que foi em outros momentos.
Onde Ciro Gomes entra nessa equação?
Espero que ele entre. Temos conversado com várias lideranças do campo progressista. Eu e o Juliano Medeiros, presidente do PSOL, conversamos com o (Carlos) Lupi, presidente do PDT. Tenho conversado com a Marina Silva (Rede), Gleisi (Hoffmann), presidente do PT, (Fernando) Haddad, Flávio Dino (PCdoB). O que defendo é uma unidade do campo progressista. Espero que o Ciro possa fazer parte dela, mas isso depende hoje muito mais de gestos e da disposição dele do que da nossa em acolher.
Historicamente o PSOL resiste a ampliar seu arco de alianças. Até onde essa frente pode ir além da esquerda? Cabem partidos do Centrão nesse projeto?
Eu não acredito em aliança com a centro-direita. Eles não querem.
Mas o Centrão esteve com Lula em 2006 e já o apoiou.
Essa é uma falsa questão. O Centrão está no barco do Bolsonaro e tudo indica que vai marchar com ele em 2022.
Lula escalou emissário para fazer pontes com João Doria (PSDB) e governadores para entrar no debate da pandemia. É um movimento correto?
Diálogo não arranca pedaço de ninguém. Ainda mais num momento grave como esse. Dito isso, o Doria representa um projeto antipopular, que não tem a mínima empatia com quem sofre. Doria é puro marketing.
Como avalia a gestão do governador João Doria na pandemia?
Doria teve o mérito de não ser negacionista. É lamentável que isso seja um mérito no Brasil. Defendeu o isolamento social e estimulou o Butantan na busca pela vacina. Mas não criou condições para que as pessoas pudessem garantir o isolamento na pandemia. Num momento como esse, deve-se garantir apoio econômico. O governo de São Paulo poderia ter feito um auxílio próprio.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.