Crise atinge projeto de coleta seletiva e retirada de lixo
Petrópolis está entre as poucas cidades do Brasil que podem se dar ao "luxo" de poder separar o lixo e destinar resíduos para reciclagem. Atualmente, apenas 1.055 municípios contam com o serviço de Coleta Seletiva no país. Quase 170 milhões de brasileiros, ou seja, 85% da população, não têm acesso ao serviço que os petropolitanos conquistaram nos últimos anos. Mas esta conquista corre o risco de acabar, ou de, pelo menos retroceder: dos oito caminhões de coleta seletiva que atuavam no Município, cinco tiveram contrato de licitação vencido neste fim de ano. A coleta seletiva já começou a ser prejudicada e há localidades da cidade que estão sem recolhimento do lixo. Moradores estão reclamando e preocupados de que o serviço, que foi conquistado com tanto custo – principalmente no que diz respeito à conscientização das pessoas -, seja cortado. Resta para o próximo governo, de Bernardo Rossi, a responsabilidade de renovar o contrato dos caminhões e dar continuidade ao trabalho tão penoso de sustentabilidade.
A fotógrafa Anita Soares, de 35 anos, é uma das petropolitanas que está há três semanas sem ter o lixo reciclável recolhido. Moradora de Nogueira, ela conseguiu trazer a coleta seletiva para a rua onde mora, a Rua Promenade, há cerca de 1,5 anos e, de acordo com ela, demorou para que a vizinhança aderisse ao movimento. "A maior dificuldade é conscientizar as pessoas. Com muito custo conseguimos que, dentro de alguns meses, a maioria das casas na rua aderissem à coleta seletiva. Meu receio é que com a demora do caminhão, o lixo fique muito acumulado e as pessoas desistam de separá-lo", disse.
A demora da coleta em alguns pontos da cidade é devido ao fato de que dos oito caminhões de coleta seletiva que atuavam na município, restaram apenas três. Os outros cinco eram terceirizados e o contrato venceu em meados de novembro, de acordo com a Companhia Municipal de Desenvolvimento de Petrópolis (Comdep). Os três que restaram pertencem à própria companhia.
"Os nossos 20 coletores estão se desdobrando para atender o máximo possível de locais com os três caminhões, mas com certeza o serviço fica deficitado", disse a gestora ambiental e responsábel pelo setor da cooperativa do Cascatinha, Bárbara Cristina Bispo. Como é fim de ano e fim de mandato na Prefeitura, não é possível abrir novas licitações. "A renovação dos contratos vai depender do próximo Governo", disse o encarregado geral da Coleta Seletiva no Município, Enéias Avelino dos Santos. "Mas, com certeza, com apenas três caminhões não é possível continuar atendendo todos os locais que atendemos hoje", disse.
Petrópolis foi classificada pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea) como uma das 15 melhores cidades no serviço de destinação de resíduos sólidos, coleta seletiva e reciclagem em maio deste ano. Na ocasião, as cidades premiadas ganharm um caminhão baú para a coleta.
A cidade possui cinco grandes frentes de trabalho: a Coleta Seletiva de Porta em Porta, a Coleta em Escolas, a Coleta por Demanda, o Ecoponto e o Centro de Triagem. A Comdep recolhe, em média, cerca de 120 toneladas de recicláveis por mês, entre alumínio, papel, papelão, garrafas pet, poli, vidro e material eletrônico. Destes, cerca de duas toneladas de material são considerados rejeitos (lixo), sendo recolhidos pela empresa responsável pela coleta de lixo e descartados em aterro controlado. Em 2014, foram recolhidos para reciclagem aproximadamente 5,2 mil litros de óleo vegetal e em 2016 mais de 60 mil lâmpadas e mais de 28 mil pneus.
"A nossa coleta supera a do Rio de Janeiro. Tomamos o cuidado para abranger a cidade toda", disse Enéias. Mesmo que só alguns bairros possuam a coleta seletiva semanal, qualquer pessoa que quiser separar seu lixo, pode fazê-lo e ligar para o setor, pelo número (24) 2243-3262, que uma equipe de coleta busca o material.
"Leva-se meses para conscientizar uma rua. A nossa preocupação é de que, com a crise, o novo governo comece a cortar as coisas boas", disse Anita. A Tribuna de Petrópolis entrou em contato com a assessoria do prefeito eleito Bernardo Rossi a fim de saber se ele pretende dar continuidade ao trabalho de coleta seletiva no Município; se pretende renovar ou fazer novos contratos dos caminhões de coleta para que o serviço não deixe de ser feito; se pretende manter o atendimento a todos os locais onde a coleta seletiva já chegou.; mas até o fechamento desta edição não obteve resposta.