Angelo Romero – Escritor
Ferreira Gullar, nosso já saudoso poeta, com sua cultura, e fala mansa, pausada, inebriava tanto seus interlocutores que estes não percebiam seus traços imperfeitos. Ferreira foi um intelectual lúcido, o grande poeta de sua geração. Foi radical ao criar a explosão da linguagem. Viveu uma vida bela, difícil, mas com grande dignidade. Retalhos de sua personalidade estão impressos em nossos principais jornais, tais como: “compor com Gullar era uma aula. Muitas pessoas precisam de um dicionário para fazer letras, ele era a própria enciclopédia” (Fagner) O Brasil perdeu o intelectual mais lúcido e o maior poeta de sua geração, que soube como poucos conciliar ética, estática e política. E esta última levou-o à prisão e ao exílio. (Zuenir Ventura). “Acredito que seja o grande poeta do nosso tempo. Ele foi o criador da mais radical explosão da linguagem e participou de todos os momentos da poesia brasileira nos últimos 50 anos.” (Geraldo Carneiro)
“O seu legado é a obra, que, às vezes, faz a gente até esquecer a biografia. Mas este não é o caso. Ele teve uma vida bonita, difícil e de grande dignidade”. (Nélida Pinõn) “É raro que, desde a primeira experiência em livro, um poeta seja referência para os pares da mesma idade. Notável, no caso de – A luta corpora -, e imbatível, até os nossos dias” (Silviano Santiago). E a mais interessante opinião: “Ferreira Gullar era o D`Artagnan dos Três Mosqueteiros: Bandeira, Drummond e João Cabral!” Sua obra poética foi por diversas vezes laureada: por “Muitas Vozes” recebeu o prêmio Jabuti, (1999), recebeu o prêmio Machado de Assis, da ABL (2005), e com o prêmio Camões (2010). Assim como uma criança que precisa de ar para empinar seu papagaio, o grande artista precisa de espaço para expandir sua arte. Foi assim que José Ribamar Ferreira (Ferreira Gullar) nascido em São Luiz do Maranhão,em 10 de setembro de 1930, resolveu vir morar no Rio de Janeiro. E foi no Rio, quando então era a capital do país, que Gullar conseguiu sua consagração como escritor, poeta, crítico de arte biógrafo, tradutor, memorialista e ensaísta brasileiro, sendo um dos fundadores do neoconcretismo, sendo então postulante da cadeira 37 da Academia Brasileira de Letras, na vaga deixada por Ivan Junqueira, da qual tomou posse em cinco de dezembro de 2014. Ferreira Gullar foi militante do Partido Comunista Brasileiro e, exilado pela ditadura militar, passando a viver na União Soviética, na Argentina e no Chile. ”Poema Sujo” foi sua obra mais conhecida e reverenciada. Ferreira Gullar nos deixou recentemente, aos 86 anos de idade, no Rio de Janeiro, em decorrência de problemas pulmonares. Sua poesia o acompanhou até os seus últimos dias, revelando uma bela imagem poética em suas últimas palavras: “Não prolonguem minha vida com aparelhos. Me levem para Ipanema. Quero entrar no mar e ir embora”.