Livro ‘Joca e dado’ inclui designers com deficiência intelectual
Joca e Dado – Uma Amizade Diferente, livro de Henri Zylberstajn que está sendo lançado pelo Leiturinha, foi ilustrado, durante a pandemia, pelos profissionais do estúdio La Casa de Cartola. “Não acredito em nada do que é construído com o objetivo que temos, que é falar de minorias, quebrar barreiras e diminuir preconceitos, sem representatividade”, comenta o autor. Criado na Espanha, o estúdio tem em sua equipe criativa, aqui, seis profissionais com diferentes tipos de deficiência intelectual, além de três designers/diretores de arte.
Esta foi a primeira encomenda para um livro comercial que a agência recebeu, e a diretora Luiza Laloni, que escolheu os artistas em um processo seletivo na Apae em meados de 2019, reuniu os jovens online para um workshop criativo. Conversaram sobre a história e sobre as diversas técnicas que seriam usadas – já que esse é um livro sobre o poder das diferenças.
Eles então fizeram o trabalho em casa, com papel cortado, giz de cera e tinta: criaram os personagens, os cenários, escolheram cores. Periodicamente alguém passava para recolher os desenhos – e os designers gráficos iniciavam a parte deles, pegando um pedaço daqui e outro dali, um olho feito por um e uma boca feita por outro, para criar as ilustrações.
É difícil, hoje, dizer se foi Tais, Roberto, Lucas, Danyel, Feliphe, Layla, Diego ou Francesca quem desenhou isso ou aquilo. O trabalho foi mesmo coletivo. Mas dá para saber, por exemplo, que Dado está cercado de dadinhos porque Danyel Mendes, 23, ficou encafifado quando na leitura apareceu um ‘Dado disse’. “O Dany é muito literal e ele tem esse olhar para tudo o que ele recebe, o que é interessante criativamente”, diz Luiza.
O desenho surgiu na vida de Danyel antes de ele ser descoberto pela Casa de Carlota. Em conversa com o Estadão, ele lembra que ficava desenhando na diretoria enquanto esperava a perua para voltar para casa. Gosta de livros. Já ilustrou, por vontade própria, João e o Pé de Feijão e O Gato de Botas. “Gosto de ler e trocava livros com uma professora, mas, por causa do coronavírus, não posso mais. E gosto de fazer livros, mas não é tão fácil. Tem que fazer bem as páginas”, diz.
Tais Araujo, de 25 anos, teve uma experiência profissional antes, trabalhando com arquivo. Com o novo emprego, sua vida ganhou um colorido novo, já não saía mais de casa sem maquiagem e os sonhos ganharam outra dimensão. Agora, ela quer fazer faculdade de fisioterapia (algo que a ajudou a recuperar o movimento de uma das pernas) e ser terapeuta ocupacional e professora de espanhol.
Conversando com a reportagem, Tais conta passagens de uma infância difícil na escola, onde não encontrou ajuda ou amigos e ficava relegada à sala dos alunos especiais, sem fazer nada – num possível diálogo com a história, que, segundo Luiza, não ocorreu entre os artistas antes. “Foi bacana fazer esse trabalho. Desenhei com meus amigos, gostei da professora Maria Vitória, do livro.”
Para Luiza Laloni, não se trata de criar um novo espaço para as pessoas com deficiência trabalharem. “A ideia é que eles ocupem o espaço, o espaço de uma agência de publicidade e design que trabalha para empresas como Facebook e Danone, fazendo o trabalho deles. Isso é incrível.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.