• A era do MMA

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  • 03/12/2016 12:00

    Assisti ao vivo grandes lutas de boxe como a de Ray Sugar Robinson contra Raymond Famechon, no início da década de 50, ou pela TV as lutas de Cassius Clay/Muhammad Ali; esporte violento, exigente em técnica apurada, o boxe obedece regras severas. Hoje, foi substituído pelas diversas variações do MMA, UFC e outras siglas, onde chutes na cara e cotoveladas e ponta pés em adversários caídos são vistos como atrativos pelas multidões que enchem as arenas onde reinam os octógonos. 

    Nas tentativas de praticar a gestão participativa da coisa pública, o lado “povo” leva foras sucessivos das autoridades eleitas. São cartas sem respostas, propostas sem eco, diálogos que viram monólogos; conselhos que adquirem o estatuto de deliberativos para não mais serem convocados, audiências públicas que obedecem à única vontade de quem as convoca por obrigação ou esperteza. Quem, da Sociedade, acredita na Constituição Federal dita “cidadã”, no Estatuto da Cidade, na Lei Orgânica e outros avanços, cedo descobre que as portas continuam cerradas, a transparência opaca e as leis ignoradas. E assim vemos que Câmara e Executivo não dão a mínima para suas obrigações participativas, e gozam da tolerância dos fiscais da Lei, ampla, geral e irrestrita.

    Salvo melhor juízo, temos quatro caminhos à nossa frente: a) desistir de vez da gestão participativa que não consegue passar do discurso à prática, pelo menos em Petrópolis, face à resistência passiva de nossos “representantes”; b) aguardar o final de cada mandato e desancar os mandatários vencidos, segundo o melhor modelo MMA, o que deveria gerar a simpatia dos pascácios e basbaques, mas arrisca machucar nossas consciências; c) continuar denunciando as tramóias que formos descobrindo e constatando que nenhum Órgão por elas se interessa (coleciono silêncios e deliberações surpreendentes, e as atas da Frente Pró-Petrópolis são um rosário de exemplos); d) enveredarmos pelo caminho que há tanto tempo defendemos e que começa a ser adotado no Brasil (vivas aos animadores): a rede de associações independentes, Brasil afora, que compartilha experiências e gera uma nova força de fiscalização poderosa e comunitária.

    Confesso que, veterano da única Primavera de Petrópolis e dos diversos arrastados Invernos Participativos, gostaria de dedicar a minha reta final à esta quarta, e fascinante, hipótese. Por um simples motivo: só existe diálogo entre iguais, e as nossas autoridades não se vêem como moldadas no mesmo barro do que os cidadãos e cidadãs. Acreditam ser o seu sangue azul ou solferino.  Em verdade, têm atrás de si as pragas chamadas partidos por cujas siglas se elegeram com laços de subordinação (li, ontem, o estatuto do PSB e fiquei pasmo).  O equilíbrio só será restabelecido se as comunidades municipais souberem criar elos de inter-colaboração entre si  fortes o bastante para igualar os pratos da balança. 

    Uma nota final: o artigo 79 sobrou na transição. A população ficou sem saber como se encontra o Município neste momento, e a Câmara, o MP e o TCE consideram que não era tema de suas competências, assim como não eram o contrato das Águas do Imperador e a publicação dos textos da LOM e RI. Estamos a pé.

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