• 100 (Cem)

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  • 11/05/2016 10:35

    Como escritor, eu aprecio e procuro escrever em cinco segmentos literários: romance, conto, poesia, teatro e crônica. Cada um desses segmentos exige fórmulas diferentes, porém, os quatro primeiros lhe dão a liberdade de escrever sobre temas do passado, do presente e do futuro. Entretanto, a crônica costuma focalizar, na maioria das vezes, o cotidiano, revelando, lembrando, comentando, elogiando ou criticando um acontecimento recente. É uma escrita bem mais imediata e se, fora do tempo, torna-se vencida. Escritor é, antes de tudo, um leitor. A crônica, por exemplo, me fascina. Recortei de jornais e guardei em álbuns, crônicas dos principais cronistas brasileiros, como, por exemplo, Rubens Braga e Sergio Porto, também conhecido por seu pseudônimo, Stanislaw Ponte Preta. Esse último, saudoso cronista, foi o meu favorito, por seu estilo crítico, debochado, irônico e ferino. Suas principais crônicas foram publicadas nos duros anos de nossa mais recente ditadura. Enfrentou-a corajosamente, desafiando a censura e tornando-se vítima ao ser detido e até torturado. Como era cardíaco, levantou-se até uma suspeita de que sua morte aconteceu em decorrência das surras de que foi vítima durante os nebulosos interrogatórios policiais. Costumava ser detido ao deixar a redação da Última Hora, jornal em que publicava suas crônicas. Porém, idealista e corajoso, foi um baluarte das letras, clamando por democracia e justiça social. Jamais se intimidou. Foi para mim, um herói, pois no dia seguinte, após ser torturado, revelava o acontecido e voltava a clamar por liberdade. Na época em que o centro da cidade do Rio de Janeiro virou um imenso canteiro de obras para a implantação do Metrô, as estátuas e monumentos foram desmontados das praças e recolhidos ao depósito público, para depois retornarem, após a complementação das obras. Em face de nossa incultura histórica, a estátua do marechal Deodoro, ao retornar, foi recolocada na Praça Tiradentes, e a de Tiradentes, na Praça da República. O erro foi imediatamente corrigido. Porém, além dessas falhas, ainda passou a ocorrerem roubos de algumas peças dos monumentos, assim como os machados que foram retirados das mãos dos índios e desapareceram, pois foram vendidos os bronzes, a peso.  Stanislaw não perdeu a oportunidade para criticar, e escreveu: “Do jeito em que estão recolocando as estátuas e roubando parte delas, vão acabar roubando o cavalo do Marechal Deodoro. Ele vai ficar montado no ar e ao invés de ser lembrado com herói do nosso exército, passará a ser visto como patrono da aviação”. Foi, ou não foi um de nossos melhores cronistas? 

    Essa é a minha centésima crônica na Tribuna de Petrópolis. 

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