• Lula, no olho do furacão

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  • 31/05/2016 10:35

    Lula finalmente entrou no olho do furacão da Lava-Jato, sob acusação de ser o grande artífice do Petrolão, formulada pelo ex-deputado Pedro Corrêa. Era ele quem dava as cartas, nomeava os diretores da Petrobras, pintava e bordava, segundo Corrêa. Também teria “armado”, após sair da presidência, a criação da empresa Sete Brasil, destinada à construção de navios-sonda para exploração do pré-sal, com vultosos contratos com a estatal, numa jogada com Sérgio Gabrielli, então presidente da empresa.

    Bem, já não era sem tempo. Lula conseguiu escapar do Mensalão, apenas e tão somente porque não investigaram a fundo os pagamentos feitos a Duda Mendonça em contas no exterior, de acordo com Renan Calheiros. O marqueteiro confessou o crime e deteve a apuração dos fatos ilícitos. Convém lembrar que Duda dirigiu a eleição de Lula em 2002 e ambos festejaram a vitória com Romanée Conti, ao preço de alguns milhares de dólares. Processado, foi absolvido, após o pagamento de pesadas multas à Receita Federal. Naquela época não havia o instituto da colaboração premiada, que vem permitindo a apuração segura de muitos crimes praticados contra o erário, com a condenação dos delinquentes.

    José Dirceu, expoente do lulopetismo, foi condenado no caso do Mensalão como chefe da organização criminosa, com base na teoria do domínio do fato. Foi considerado o grande regente das ilicitudes, o arquiteto dos planos de cooptação e compra de voto dos parlamentares no Congresso, o grande ator, com marcada atuação nos bastidores, sem o qual as ações ilícitas não se efetivariam. Lula, na ocasião, permanecia como sujeito oculto em todas as operações, insistindo em dizer-se traído, frisando que jamais viu ou soube de nada, embora advertido sobre os feitos pelo então deputado Roberto Jefferson, autor das denúncias do Mensalão.

    Agora, enredado nas malhas do Petrolão, Dirceu amarga pena de mais de 23 anos de prisão. Na sentença condenatória, o juiz Moro diz que não vê o ex-chefe da Casa Civil de Lula e fundador do PT como o chefe da quadrilha. Talvez queira indicar que o lugar de “capo de tutti capi” ficaria reservado a outro personagem, bem mais importante na sucessão de escândalos.

    Dirceu mantém-se em silêncio e suporta o peso da condenação por um rol de crimes que não cometeu sozinho. Até quando, com Lula ainda aí, livre, leve e solto, ninguém sabe? De qualquer sorte, pelo teor explosivo e convincente das declarações do ex-deputado Pedro Corrêa, Lula é trazido ao núcleo dos esquemas de assalto do Petrolão. 

    Com riqueza de detalhes, Corrêa reproduz diálogo ocorrido lá atrás entre Lula, presidente da República, e o então presidente da Petrobras, Luiz Eduardo Dutra, a respeito do impasse na nomeação de Paulo Roberto Costa para a diretoria da petrolífera. Segundo a revista Veja, enquanto Lula insistia com o nome de Costa, Dutra observava que não era tradição na empresa substituir diretores sem maiores justificativas. Em resposta, diz Lula: “Olha Dutra, se fôssemos pensar em tradição na Petrobras, nem você era presidente, nem eu era presidente da República”. Na sequência, ameaça demitir os conselheiros da estatal que resistiam à designação de Costa, o Paulinho, como era chamado por Lula. Assim, removeu os óbices na nomeação do primeiro e principal delator da Lava-Jato. 

    Ciente de tudo o que aprontou, Lula já admite ser preso, como teria confidenciado a Renan Calheiros, seu velho aliado, outro que está com o pescoço próximo do cutelo.

    paulofigueiredo@uol.com.br

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