• Uma sociedade sem polícia

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  • 20/02/2017 12:05

    Os saques que ocorreram no Espírito Santo por causa da paralisação da polícia militar reacenderam as discussões sobre a criação de um estado sem governo e sem polícia. O clima de terror que amedrontou a população deixou claro que ainda não estamos preparados para viver em uma sociedade sem a presença de uma corporação capaz de manter a ordem pública. Apesar disso, ainda acredito que os seres humanos, dotados de inteligência, possam viver livres e harmoniosamente em sociedade, sem a necessidade de forças militares para manter o estado de direito. Sei que isso soa como uma utopia, mas preciso dessa referência de civilidade para exercer a minha licenciatura de educador.

    Não vejo graça em transmitir somente o conteúdo programático das disciplinas que leciono. O conhecimento que tenho é ínfimo em relação ao volume de informações armazenadas no sistema global de redes de computadores. Nenhum educador tem mais informação que o senhor Google. Mas não é o Google que está em sala de aula, disposto a desenvolver habilidades, competências e passar valores humanos para a consolidação de uma sociedade pacífica que priorize o bem comum.

    Se olharmos para trás, teremos a chance de constatar que avançamos um pouco, basta ver os dados históricos dos regimes feudais, escravocratas. Hoje lutamos por um estado democrático que respeite os direitos humanos. Mas ainda falta muito para chegarmos a um estágio em que não seja necessária a presença de polícia, nem de governantes. O custo para manter a classe política é alto. A relação custo benefício, em favor da sociedade, é muito pequena; porque, nem sempre, atendem aos interesses do povo.

    A superlotação do sistema carcerário é outro ponto que hoje sinaliza a nossa impossibilidade de viver sem polícia. Liberdade não quer dizer sem limites. O grau de consciência social para se estruturar um estado sem polícia tem que ser elevado. O respeito ao outro é imprescindível. O bem da coletividade deve ser colocado acima dos interesses pessoais.

    Hoje nenhum país mantém o regime anarquista. É válido mencionar que o termo “anarquismo” significa ausência de governo. Provém do Latim anarchia, do Grego anarkhia. Só que, no senso comum, a palavra é empregada com o sentido de desordem.

    Leon Tostei, autor de “Guerra e Paz”, escreveu “O Reino de Deus está em Vós”, baseado no Sermão da Montanha. Foi um dos líderes do que ficou conhecido como anarquismo cristão. Não admitia a violência em nenhuma circunstância. Gandhi, que o admirava, tornou-se também um adepto da “não-violência”.

    Para esse autor que nasceu no império russo, Jesus foi quem melhor pregou uma conduta moral, capaz de gerar justiça, além de vivenciar uma espiritualidade que nos indica o caminho da paz. 

    E, para repensar essa questão da autoridade e do poder, é bom ouvir o que Jesus disse a seus discípulos: 

    “Em seguida, voltaram para Cafarnaum. Quando já estava em casa, Jesus perguntou-lhes: ‘De que faláveis pelo caminho?’

    Mas eles calaram-se, porque pelo caminho haviam discutido entre si qual deles seria o maior.

    Sentando-se, chamou os Doze e disse-lhes: ‘Se alguém quer ser o primeiro, seja o último de todos e o servo de todos.’

    E tomando um menino, colocou-o no meio deles; abraçou-o e disse-lhes:

    ‘Todo o que recebe um destes meninos em meu nome, a mim é que recebe; e todo o que recebe a mim, não me recebe, mas Aquele que me enviou.’” (Mc 9,33-37)

    – Se houvesse mais humildade e menos arrogância, a paz teria mais chance e os presídios não estariam superlotados.


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