• Uma Praça da Liberdade bem diferente

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  • 08/04/2018 00:15

    Se engana quem pensa que a Praça da Liberdade sempre teve o formato que conhecemos hoje. Antes transpassada por uma via que possibilitava a passagem dos bondes elétricos, a praça viveu mudanças urbanísticas e também nominais ao longo dos anos. Palco de apresentações musicais, exibições de filme e campeonatos de hóquei sob patins, a área se tornou um símbolo na cidade por sua integração com o povo.

    O professor, historiador e membro do Instituto Histórico de Petrópolis Oazinguito Ferreira explica que o espaço sempre esteve relacionado às manifestações populares e que, diferente do que muitos acreditam, não foi nomeado a partir de ex-escravos que lá se reuniam para comprar a liberdade de companheiros ainda mantidos em senzalas.

    ‘As primeiras áreas urbanas estavam localizadas nas regiões periféricas do Centro e do próprio Palácio Imperial. Na Koeler havia muitas famílias veranistas, famílias da Corte que traziam para cá escravos alugados. Em 1888, com o sancionamento da Lei Áurea e a propagação da notícia, eles partem em direção à praça para comemorar sua liberdade. Daí o nome’, esclarece ele.

    Segundo Oazinguito, o local só se torna mais representativo depois do citado fenômeno de celebração por parte dos escravos. ‘Até então era como se durante o dia a praça fosse o ponto da Bélle Époque: pertencia à elite e reunia grupos privilegiados. Era apenas à noite que o povo aparecia e, inclusive, de forma bem escondida’.

    De acordo com Joaquim Eloy, historiador e também membro do IHP, apesar de Koeler ter projetado praças para cada um dos onze núcleos coloniais ou quarteirões, a extensa faixa denominada de Largo Dom Afonso, atual Praça da Liberdade, foi pensada como a principal da cidade. 

    ‘Ela estava localizada fora da área do Palácio Imperial que abrangia desde a Avenida Ipiranga até o Edifício Santo Antônio e foi chamada de Dom Afonso até 1888 em homenagem ao barão mais novo, filho primogênito de Dom Pedro II que seria o herdeiro do trono, mas que morreu aos dois anos de idade’.


    A praça do povo

    O território, que logo se estabeleceu como ponto de encontro de famílias e jovens, teve como grande destaque um rinque de patinação que sediava campeonatos de hóquei sob patins e que recebia, inclusive, grupos de fora como equipes portuguesas. A quadra pública fazia a alegria dos frequentadores, sendo um deles o próprio Joaquim.

    ‘A quadra recebia cavalheiros e damas para patinar, vestidos nos trajes pesados daqueles idos, aliás muito apropriados para diminuir o impacto das quedas e pelo frio de nossa terra. Na década de 60 os patins eram uma mania e o Rink Marowil palco de grandes eventos que reuniam patinadores profissionais de todo o Brasil. Aos sábados e domingos a garotada toda estava lá patinando. Era uma festa’, relembra ele.

    Segundo o historiador, até 1964 a praça era transpassada pela Rua João Pessoa. Naquele ano o corte central por onde percorriam os bondes elétricos foi eliminado e um formato arredondado, próximo do que conhecemos nos dias atuais, assumido para que as ruas pudessem se estabelecer em seu contorno.

    Além da patinação, havia ainda outras opções como o cinema da praça, em que eram exibidas produções com projetores 16mmm que iam desde desenhos animados e documentários, a jornais, comédias e filmes faroestes/policiais. ‘A tela ficava ao fundo da praça, quase na altura do bar e com visão, ao fundo, do prédio da Universidade Católica de Petrópolis, no grande largo da Barão de Amazonas. O espaço era suficiente para os espectadores que lotavam aquele mágico recanto de alegria e descontração’, descreve Joaquim.

    Quem hoje visita a Praça da Liberdade nota, próximo ao trecho onde eram realizadas as projeções dos filmes, um monumento em homenagem ao Doutor José Tomas da Porciúncula que, petropolitano, foi governador do estado e trouxe a capital do estado do Rio para Petrópolis de 1894 a 1903. Joaquim Eloy relembra que, próximo ao local, onde está localizado o 14 Bis, havia o Hotel Majestic.

    ‘Atrás do monumento à Porciúncula ficava o Hotel Majestic, um hotel de categoria muito frequentado e que foi demolido na década de 50. Na época em que eu era universitário, nós lá fazíamos os sábados universitários dançantes. Nós nos reuníamos, alugávamos uma orquestra e dançávamos’, descreve mais uma das tantas histórias que na Praça da Liberdade foram construídas e perpetuadas.



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