• Projeto ajuda pessoas a lidar com a perda de entes queridos

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  • 13/08/2018 17:16

    “No inicio, foi tudo muito difícil! A sensação era que apenas eu vivenciava aquela dor em todo universo. Mesmo sabendo que muitos perdem seus bebês foi o momento que mais me senti sozinha na vida, e ainda enfrentando um sofrimento imensurável. Não me sentia à vontade para conversar com ninguém sobre o que tinha acontecido e, ao mesmo tempo, percebi como a morte é um tabu, principalmente quando se trata de uma mãe que perde o filho (a). Não há o que ser dito numa situação como essa. Por isso, encontrar o projeto, e me identificar com outras pessoas que vivenciavam o mesmo que eu, que sabiam exatamente tudo o que eu estava passando, foi fundamental para o início da minha recuperação”, contou emocionada a professora de pilates, Thalyta Oliveira.

    A dor de perder alguém que se ama, principalmente quando se trata de parentes próximos ou companheiros é profunda. Diante disso, muitos ficam imersos nela e não sabem como retornar para a superfície. Afinal, encontrar um motivo “justo” para as separações nunca é uma tarefa fácil, e em alguns casos é preciso contar com a ajuda do outro para curar uma ferida tão grande. Após sofrerem suas próprias perdas, as instrutoras e terapeutas Marcelle Sampaio e Micheline Torres criaram o Projeto AcolheDor, realizado em Araras e voltado para auxiliar aqueles que estão atravessando a dor do luto.

    O projeto consiste no acompanhamento terapêutico e energético, em grupo e também de maneira individual, ao longo de oito meses, unindo meditação, rodas de conversa, partilha de experiências individuais e coletivas sobre o luto e sua travessia, além da aplicação do ThetaHealing- cura energética, também considerada cura quântica, que trabalha nos planos físico, mental, psíquico e espiritual do cliente; e do Banho de Cristais- utilizado para promover limpeza energética e eliminar energias negativas.

    O tratamento com ThetaHealing foi a porta de entrada da Thalyta para o projeto AcolheDor. A paulistana, que atualmente mora com o marido em Itaipava, soube do trabalho realizado por Marcelle e Micheline através de uma amiga. Em um dia em que se sentia especialmente triste por conta da perda da filha Maria Flor, que faleceu 47 dias após o nascimento, assistiu um vídeo delas e tomou a mensagem como um recado para si. “Elas anunciavam o início do projeto. Fiquei profundamente emocionada e vi aquela mensagem como sendo para mim”, contou.

    Há sete meses no projeto, Thalyta afirma que hoje sente que existe um poço profundo que caminha ao lado dela, mas que agora já mais forte por conta da ajuda recebida, ela tem forças para ficar fora dele. “Hoje tenho consciência que esse poço existe e da força que ele possui. Aprendi a respeitá-lo e principalmente a me manter fora dele. Se não fosse o projeto e as meninas estaria até hoje trancada em casa, de pijama, sem conversar com ninguém, apenas imersa no meu sofrimento. Afinal, nunca imaginamos que perderemos um filho. O natural da vida, apesar de doloroso também é que os mais velhos deixem esse plano primeiro, e não que os mais novos permaneçam tão pouco tempo ao nosso lado. Mas com elas aprendi que quando amamos alguém estaremos sempre junto daquela pessoa. Por mais que a Maria Flor não esteja no meu colo, meu amor é infinito e isso é o que me torna verdadeiramente mãe dela”, disse emocionada.

    Sobre o projeto

    O foco do AcolheDor é trazer conforto aos corações enlutados, restaurar a potência vital, cuidar da dor, e ter um novo olhar sobre si mesmo, para poder novamente enxergar o milagre da vida em tudo que existe ao redor. “Além disso, trazer a clareza de que a morte é vida e que, sim, precisamos falar dela, acolhêla, reconhecendo sua presença intrínseca em tudo o que chamamos de vivo e, assim, podermos compreender que o amor que nos une a quem amamos é fonte de tudo o que somos, de tudo o que é infinito, ilimitado e não-local”, explicou Micheline.

    O projeto é gratuito para aqueles que não têm condições financeiras de ajudar com o valor simbólico sugerido pelas terapeutas, e começou esse ano. Atualmente, as especialistas atendem oito pessoas, por conta da limitação de horários e do número de atendimento que a mesa do Banho de Cristais comporta. Mas a ideia é comprar mais um equipamento para realizar o procedimento e poder atender cada vez mais pessoas. Para que isso seja possível, o espaço, que está localizado em meio a natureza, aceita doações e contribuições simbólicas.

    Como tudo começou

    O Projeto Acolhedor foi idealizado na Casa de D. Inácio de Loyola, em Abadiânia. Na ocasião, a terapeuta Marcelle Sampaio, estava em tratamento devido a perda da segunda filha, e meditava por cinco horas quando vislumbrou o projeto completo. Ela afirma ter acolhido a mensagem como uma missão dela e da companheira Micheline, de ajudar aqueles que vivem o luto e passam pelo que elas passaram após perderem as filhas.

    O casal perdeu a pequena Manu com apenas cinco dias de vida no ano de 2015. De acordo com Marcelle, a perda da primeira filha fez com que elas enxergassem o futuro desfeito, o passado sem sentido, e naquele momento elas se sentiam soltas no presente, imersas em dor e revolta. “Nesse momento caímos, e então fomos amparadas. Nossas famílias e nossos amados amigos se deram as mãos, somados a uma rede amorosa que se formou vinda de todos os cantos. Neste tempo que passa transloucado, voltamos algumas vezes a Abadiânia, de acordo com o tratamento do ThetaHealing e do Banho de Cristais, até que tivemos alta. Foi então que engravidei da Maria, mas infelizmente aos cinco meses de gestação, madrugada de eclipse lunar, a bolsa estourou, e a nossa segunda filha nasceu sem vida. Mesmo assim, sempre seremos mães de Manu e Maria e existe sim uma dor que se transmuta a cada respiração. Mas existe também uma imensa gratidão por toda esta jornada vivida e por tudo a viver”, contou.

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