• Petrópolis pode ter trem de flutuação magnética

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  • 14/02/2018 09:41

    Desativada há mais de 50 anos, a Estrada da Ferro Mauá permitia algo novo para aqueles tempos: a integração das modalidades de transporte aquaviário e ferroviário, introduzindo a primeira operação intermodal do Brasil. Quem nasceu naquela época lembra com saudosismo a possibilidade de ir para a cidade do Rio de Janeiro saindo de Petrópolis de trem. A viagem era mais lenta do que as realizadas nos tempos atuais, no entanto, a estrada ligava as embarcações que faziam o trajeto inicial da Praça XV, na cidade do Rio de Janeiro, indo até ao fundo da Baía de Guanabara, no Porto de Estrela, e, daí, o trem se encarregava do transporte terrestre até Petrópolis.

    Hoje, com um frota superior a 167 mil veículos, de acordo com dados do Detran, é urgente a necessidade de implantação de novos modais de transporte e que permitam uma integração. A volta do trem é um sonho quase impossível, no entanto a abertura de um chamamento público para a apresentação de projetos com viabilidade técnica e econômica-financeira traz esperanças e podem ser alternativas viáveis para a melhora da mobilidade urbana na cidade.

    O Procedimento de Manifestação de Interesse (PMI) foi lançado na 14ª Conferência Municipal de Trânsito e Transportes, realizada no último fim de semana. No chamamento público, as empresas precisam apresentar projetos que contem com aspectos de aplicabilidade, instalação e funcionamento para compor uma futura licitação destinada à implantação e operação de um sistema de transporte.

    No estudo, que deverá ser entregue à CPTrans até agosto, deverão ser apresentadas informações sobre a máxima velocidade média operacional com o menor custo tarifário; a viabilidade do projeto, mediante demonstração das metas e resultados a serem atingidos, prazos de execução e de amortização do capital investido; harmonia com o Plano Diretor; indicação do impacto orçamentário-financeiro, entre outros.

    “O número de veículos cresce a passos largos em Petrópolis e fechamos janeiro com 167.220 emplacados no município – é mais de um automóvel para cada três pessoas. Por isso, precisamos de outras formas de transporte. Pensar na mobilidade urbana inclui vários aspectos e um deles é ter a real noção de como será o futuro na nossa cidade”, destaca o diretor-presidente da Companhia Petropolitana de Trânsito, Maurinho Branco.


    Um sonho que está cada mais vez distante

    A sonhada reativação da Estrada de Ferro Mauá ganhou mais um reforço: uma petição on-line (http://www.manifestolivre.com.br/ml/assinaturas. aspx?manifesto=expresso_ imperial) que será enviada ao Senado. Até o momento, mais de 5.600 pessoas já assinaram o documento que tem como objetivo sensibilizar os senadores a criar projetos que destinem recursos para a reativação da estrada. A intenção é conseguir 20 mil assinaturas

    “A iniciativa partiu do advogado mageense, Antonio Seixas, que é um incansável defensor do Patrimônio Histórico Nacional. O Estado não tem recursos para reativar a estrada, assim como o município. A nossa única chance é a ajuda do governo federal. Para chegarmos até a União, queremos sensibilizar os senadores a apoiar esta causa”, disse Antonio Pastori, que há pelo menos 30 anos luta pela reativação do trem em Petrópolis.

    Segundo Pastori, a petição pede a reativação do primeiro trecho da estrada, de cerca de sete quilômetros ainda em Mauá. “Com esse trecho em funcionamento e dando certo, conseguiremos avançar e quem sabe chegar com o trem até Petrópolis”, frisou o pesquisador.

    A Estrada de Ferro Mauá está desativada há mais de 50 anos e, neste tempo a ocupação irregular avançou. Hoje, ela é um dos principais entraves para a sua reativação. Ao longo da Estrada Velha da Estrela – entre a Lopes Trovão e o Meio da Serra – é possível ver as construções invadindo a mata e ocupando toda a linha do trem. “A estrada está em total estado de abandono. É lamentável ver a sua situação atual”, lamentou Pastori.

    A Estrada de Ferro Mauá foi inaugurada em 1854. Naquele ano, o barão que dá nome à ferrovia inaugurou seu primeiro trecho, entre Guia de Pacobaíba e Raiz da Serra. Em 1883, a via foi estendida até Petrópolis pela Companhia Grão-Pará. Era comum que Dom Pedro II partisse de barca da Praça XV, desembarcasse em Magé uma hora depois e, por meio do trem, chegasse à cidade imperial. Com a construção da estação da Leopoldina em 1926, a ligação hidroviária entre a Praça XV e Magé foi desativada e a conexão ferroviária entre o centro do Rio e Raiz da Serra passou a ser feita pelo que se tornou hoje o ramal Vila Inhomirim.


    Maglev: o futuro do transporte

    O PMI será a base para a implantação de um projeto que vem sendo discutido desde o ano passado: o MagLev, ou o trem de levitação magnética (flutuante). Idealizado pelos engenheiros Eduardo Gonçalves David e Angela França Pedrinho, a ideia é ligar o Bingen e o Quitandinha ao Centro Histórico. O trem tem capacidade de transportar até 130 mil passageiros por dia, segundo a Prefeitura. O trajeto será de 15,3 quilômetros saindo do Quitandinha, passando pelo LNCC, Ponte Fones, Alto da Serra e Fábrica Dona Isabel até o Centro na altura da Praça São Pedro de Alcântara. De lá, parte para o Bingen, completando o arco.

    “Essa tecnologia existe em apenas três países: China, Japão e Coreia. No entanto, como transporte urbano de baixa velocidade, ele está em pleno funcionamento apenas na China. Petrópolis será a primeira cidade do país a ter o MagLev de forma plena”, ressaltou Angela. Segundo ela, os custos de implantação serão todos captados com investidores estrangeiros. “Nossa proposta, com o MagLev, contará com tecnologia inglesa de ponta, além de estudos do próprio Eduardo Gonçalves David, que é um dos que têm a patente dessa tecnologia no Brasil. Então, nossa intenção agora é montar um grupo para elaboração de um projeto detalhado dentro do que o edital apresentado define”, destacou a engenheira.

    Além de Petrópolis, o projeto também foi apresentado para outras duas cidades – Londrina (em São Paulo) e Juiz de Fora (Minas Gerais). Neste locais, segundo Angela as negociações também estão avançando. “Petrópolis tem toda capacidade de implantar essa tecnologia. É um projeto totalmente executável”, frisou a engenheira. 


    Iniciativa privada pode bancar trem turístico ligando Nogueira a Itaipava

    Outro projeto elaborado pelo ferroviarista e pesquisador Antonio Pastori e pelo geógrafo, Ricardo Lafayette foi apresentado na 14ª Conferência Municipal de Trânsito e Transportes: a implantação de um trem turístico que vai ligar Nogueira a Itaipava. O investimento é de cerca de R$ 25 milhões e, segundo os idealizadores, será custeado pela iniciativa privada.

    De acordo com o projeto, o trem sairá da estação de Nogueira e seguirá até o Parque Municipal em Itaipava, passando pela rua Braz Rossi, seguindo até Trevo de Bonsucesso. Neste trecho, a viagem continuará pela Estrada União Indústria até uma rota alternativa que será construída ao lado do Horto Municipal, seguindo até os fundos do parque. “O trilhos serão aqueles parecidos com o VLT permitindo que outros veículos, como carros e ônibus, também consigam circular”, explicou Pastori.

    Entre os parceiros para a implantação do projeto está a Fecomércio, que emprestaria as locomotivas e vagões. “No Sesc de Grussaí existem 15 vagões e cinco locomotivas que não estão sendo usadas. Já oficiamos a entidade solicitando a parceria. Se eles cederem os equipamentos, poderemos dar continuidade ao restante do projeto”, disse o ferroviário e pesquisador.

    O projeto prevê a revitalização da estação de Nogueira, a construção de uma ponte e adequação do parque para a chegada do trem. “Esta nova configuração viária permitiria que grande parte da Estrada União e Indústria, em Itaipava, ficasse duplicada, do Trevo de Bonsucesso ao Shopping Estação Itaipava, permitindo ainda a ampliação da área urbana da localidade, abertura de novos empreendimentos, sobretudo comerciais, além de contornar o Parque Municipal, ampliando sua centralidade na região”, ressaltou Pastori. O trajeto do trem turístico usaria como base um projeto apresentado pela Companhia Petropolitana de Trânsito e Transportes (CPTrans) como alternativa ao trânsito de Itaipava. A ideia é usar a Rua Agante Moço (localizada atrás do Parque Municipal) como rota alternativa para quem segue em direção ao distrito. A via usada seria uma rua ao lado do Hortomercado Municipal e o Corpo de Bombeiros, ligando a Estrada União e Indústria à Agante Moço.

    O projeto prevê ainda a duplicação e pavimentação da via que fica atrás do parque, a pavimentação do trecho, a criação de uma ponte e também a desapropriação de um trecho em um condomínio localizado na saída da Agente Moço, já na Estrada União e Indústria.

    A implantação do trem turístico poderá render um faturamento anual de quase R$ 2 milhões. Estamos confiantes neste projeto e acreditamos ser totalmente executável. Cidades com potencial turístico já contam com esse tipo de transporte, que é também uma atração. A implantação desse projeto é a realização de parte do sonho do petropolitano de reativar o trem na cidade”, destacou Pastori.  

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