• Partidos: ocaso e renascer

  • Continua após o anúncio
  • Continua após o anúncio
  • 25/04/2018 13:00

    A esperteza, quando é muita, engole o dono. Foi o que aconteceu em matéria eleitoral e partidária na Constituição de 1988, quando as bancadas das maiores siglas de então se pilharam com a faca e o queijo na mão e tudo se concederam: autonomia para definir a sua estrutura interna, organização e funcionamento; e mais monopólio de seleção de candidatos, vedação das candidaturas avulsas, limitação de partidos emergentes, financiamento às custas do povo (?), ou seja, nicho privilegiado, fábrica de donos da bola. E ainda viriam a gerar a cláusula de barreira, a garantir que o cartel operador do monopólio seria composto por poucos membros. Como requer a Cosa Nostra.

    Veio a anemia do pensamento, a morte da democracia interna, a corrupção sistêmica, o escambo entre Poderes, os mandatos vistos como profissão, a decadência de tantas Instituições, o desprezo pela gestão participativa, a desmoralização das eleições pela prática usual mas despercebida da compra de votos. Em troca, colheram o desinteresse de 30% do eleitorado descrente da 

    auto regeneração do sistema. 

    Aos poucos, o cenário eleitoral de 2018 vai desenhando um quadro que era de se prever: os antigos partidos são “bypassados” por novas siglas (PSoL, Rede, Novo), novas posturas (PPS) e movimentos informais nascidos da sociedade. Joaquim Barbosa, Marina Silva, Guilherme Boulos, Flávio Rocha, João Amoêdo e outros abrem espaço no meio das figuras tradicionais dos clássicos MDB, PT, PSDB, PP, DEM, PDT (p.ex.) que fizeram por merecer o desalento.

    Confesso, sem arrependimento, que coordenei a organização de dois partidos. O do Solidarismo Libertador, PSL, que soçobrou no TSE sob a relatoria do Ministro Paulo Brossard, e o Partido do Solidarismo Nacional, que obteve o seu registro, viraria PHS mais adiante e depois dispensaria os seus fundadores em nome de um pragmatismo que me soa à adesão às regras atuais do jogo. Eu me sinto mais confortável no “exílio”, a cuidar livremente das ideias de gestão participativa que são a essência do Solidarismo. Não sou antipartidos mas rechaço o modelo que adotaram na busca do poder e do sucesso econômico-financeiro, às custas de ideais e do serviço ao povo no meio do qual nasceram. Torço para que desmanchem o cartel que criaram e aceitem a livre concorrência, inclusa a dos avulsos, com regras claras e justas e sem dinheiro público a irrigar a seara reservada. Ou ainda não constataram que os parlamentos que compõem custam fortunas para mais cuidar de si que do povo?

    A receita do bolo passa pela concorrência dos partidos com os candidatos avulsos, pelo municipalismo, pela vereança gratuita como regra geral, pelo planejamento participativo liderado pelo povo. Nem os Municípios, nem os Estados e o DF e muito menos a União podem ser vistos como feudos das diversas siglas que prometem revoluções ao se instalarem nos palácios e servem desculpas e palavras de ordem ao deixar para trás as metas tornadas escombros. Chega de improviso e frases de efeito a suprir a falta de planejamento, substituindo o povo como senhor de todo o poder e sem perceber que o mandato, como a flor, passa de promessa a passado em um piscar d’olhos.

    Últimas