• O preço do nosso conforto digital

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  • 26/10/2017 12:35

    Não há como colocar o gênio de volta na garrafa. Todos serão acompanhados e monitorados pela segurança, comodidade e serviços incríveis que terão na Internet. Monitoramento contínuo – sensores, data-base e poder tecnológico: a regra. 

    Quem afirmou isso foi o economista-chefe da Google, Hal Varian.

    A minha humilde impressão é de que teremos que optar entre isso ou privacidade. E quem, com tantas vantagens trazidas pelo futuro, optará pela privacidade vintage?

    O futuro chegou voando rasante nas macrovidas públicas e nas microvidas cotidianas, sacudindo lares, hábitos, casais e relacionamentos diversos.

    E o mais genial e admirável do que estamos vivendo é que não somos tradicionalmente forçados a nada: oferecemos nossos dados de mão beijada, bastar pedir com jeitinho. Com contas em redes sociais poderosas como o Facebook ou Google, nos vinculamos a um monte de outros aplicativos, basta um clique e autorizamos tudo o que quiserem saber sobre nós, até o número do cartão de crédito! Trocamos nossos insignificantes dados (afinal quem somos nós nesse mundão?) por serviços cada vez melhores. Troca justa, não? 

    Perdemos o controle de quem e quantos têm os nossos dados. Uma pesquisa feita no ano passado com Americanos revelou que 91% deles reconhece que perderam o controle de como e para que seus dados foram coletados. Já era. 

    Você tem medo? Deu frio na barriga? Provavelmente sim. Mas isso não impede ninguém de continuar se expondo, entregando seus dados e consumindo tudo de melhor que o mundo digital pode nos oferecer. É uma espécie de vício – somos adictos e nos entregamos completamente à nossa luxúria digital.

    Sabemos de tudo de maior que isso significa, mas será que já nos demos conta do quanto estarmos ligados a vários computadores e mobiles está inevitavelmente mudando a maneira que teremos que nos comportar e conduzir as regras de nossos diversos relacionamentos, especialmente o amoroso?

    Eu já perdi a conta de quantos casos próximos de estresse, aborrecimento e decepção causados por descobertas indesejadas em contas ligadas, messengers ativados e arquivos na nuvem. 

    Homens e mulheres que descobriram traições reais (físicas) ou virtuais (o que não diminui a dor) por terem invadido contas em redes ou aplicativos de conversa de seus parceiros. Conversas desveladas em celulares e notebooks. Fotos descobertas, logins em apps de paquera são avisados  às vezes na conta do e-mail fuxicado, senhas hackeada s para checar os celulares e por aí vai. Será que os que mantém conversas, relações e segredos estão somente exercendo a sua privacidade num tempo em que ela é escassa? 

    Os tempos estão tão líquidos, e ao mesmo tempo, tão solidamente pesados, que devemos ajustar nosso comportamento na esfera amorosa sob pena de o amor se tornar gasoso e evaporar.

    Se a mentira antes tinha pernas curtas, hoje ela é amputada, não tem mais perna pra contar a história. Esconder em tempos de password, sign up e login é missão quase impossível.

    Portanto, se  privacidade é o que perdemos voluntariamente para vivermos as maravilhas do mundo “Black Mirror”, aceitemos que o preço é ser transparente. Será que conseguimos? 


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