• O poeta

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  • 14/09/2016 12:00

    Sei que existem exceções à regra, mas vou me dirigir à regra, e a regra me diz que o poeta é um ser diferenciado. Não consigo imaginar o poeta como uma pessoa fria, calculista, violenta, capaz de cometer um ato extremo. Para isso ele costuma habitar dois mundos: o mundo real, em que ele paga para viver, e o mundo do sonho, da fantasia, em que ele não visa buscar recursos para pagar pela vida. Um poeta, por exemplo, jamais conseguirá ser um bom político e vice-versa, pois a palavra é seu material de trabalho. Para ele a palavra é sagrada, é verdadeira e não pode ser usada para mentir e corromper. E, falando sobre a regra, posso garantir que o poeta jamais conseguirá viver da poesia, pois a poesia alimenta a alma, e não a matéria. Poeta bem de vida costuma ser aquele que foi beneficiado por uma herança, ou que soube se equilibrar no mundo real. Casos raros, mas que não deixam de existir. Quando na função de médico, o poeta salva almas adoecidas, quando na função de pintor, ele colore a vida, com a palavra. O poeta costuma ser vidente, pois tanto pode ver poesia no sorriso de uma criança, quanto num cravo murcho atirado numa lixeira. 

    A poesia também pode servir como veículo de exaltação, ou de denúncia. Castro Alves, por exemplo, declarou-se um abolicionista através de sua poesia: “Senhor Deus dos desgraçados,/ onde estás senhor Deus?/ Se é mentira, ou se é verdade/; tanto horror perante os céus”/. Existem obras poéticas consagradas que combateram regimes ditatoriais. Muito embora não sendo belicosa, a poesia não deixa de ser uma arma poderosa. Uma declaração de amor, através de um bom poema, poderá convencer a pessoa amada. Em suma, a poesia, assim como a música, existe para combater a aridez do mundo. A palavra é, para o poeta, seu material de trabalho. É a ferramenta que ele emprega para moldar seus sentimentos e mostrar ao mundo o seu desencanto, ou alumbramento diante da vida.

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