• O fio da vida

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  • 14/03/2016 11:10

    Quem aperta o gatilho de um revólver não tem a dimensão do que possa ferir. O tiro disparado contra o Frei Antônio Moser atingiu pessoas e instituições que contavam com o trabalho dele, ou seja, mesmo quem não estava na alça de mira foi atingido por mais um ato de violência. Diante de um fato como esse, sentimo-nos vulneráveis. A vida parece descartável, sem valor algum. 

    Em uma situação trágica como essa, a quem recorrer? O que fazer para que isso não mais aconteça? Quantas pessoas ainda serão assassinadas? Como pôr um fim a essa violência?

    Sem encontrar respostas, muitas indagações surgem pelo choque com a irracionalidade humana. Somos movidos por um sentimento de impotência e questionamos a selvageria que cresce no seio da sociedade.  O “até quando?” se arrasta, porque não há perspectivas, não se veem mudanças, nem atitudes que possam cortar o mal pela raiz. Por isso permanece esse clima de vulnerabilidade, ninguém se sente seguro.

    A bala que tirou a vida do Frei Moser feriu muita gente. Uma dor profunda recaiu sobre Petrópolis, principalmente sobre aquelas pessoas que recebiam suas orientações espirituais e os que eram beneficiados pelo seu trabalho social. Parentes, amigos, seus confrades e confreiras que seguem os preceitos de São Francisco de Assis, lamentam esse corte trágico na vida de um ser humano dedicado ao trabalho e dotado de uma habilidade intelectual brilhante, com espírito empreendedor. 

    O indivíduo que deu o tiro está se vangloriando de quê? Matou um senhor de 75 anos de idade; e o que ganhou com isso? A família dele vai se orgulhar de quê? Que mérito vai expor à sociedade?

    Estamos no período da quaresma, no ano da Misericórdia, instituído pelo Papa Francisco. Período este em que o perdão tem a sua evidência. Deus sabe como é difícil praticá-lo, quando a ferida ainda está aberta. Este é um dos momentos em que a razão humana entra em conflito com a prática cristã: perdoar a barbárie da insanidade é uma tarefa dificílima. 

    Pela infinita bondade, Deus não nega o perdão. O assassino será perdoado se se arrepender e implorar o perdão diante do Senhor. A justiça dos homens adota um código penal, exclui do convívio social aqueles que não seguem as leis. Entre estas, estão alguns mandamentos que também são inerentes à vivência cristã: “Não matar”, “não furtar”, “não levantar falsos testemunhos”. Isso prova que o respeito à vida, não se trata apenas de um comportamento religioso, mas também de um dos princípios fundamentais para que se possa ter paz entre os homens. “Amar e ser amado”, “perdoar e ser perdoado”, a cada dia que passa torna-se mais difícil ver, na prática, os versos da oração de São Francisco. Talvez seja mais fácil dizer “irmão Sol”, “irmã Lua”, do que chamar de irmão quem está do nosso lado, por causa do medo e da desconfiança que se propagam com a violência.

    No livro “Teologia Moral: Impasses e Alternativas” de autoria de Frei Moser e Bernardino Leers, no capítulo “O Chamado de Deus e a Resposta Humana”, encontramos a seguinte afirmativa: 

    “Homem nenhum é impermeável para com o mundo que o cerca; ao contrário, depende dele na formação de sua cabeça e de seu coração e é constantemente condicionado por ele em sua caminhada e decisões”.

    – Ainda soa aos nossos ouvidos, a frase que Jesus pronunciou na cruz: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”.

    P.S: Quero aqui externar o sentimento de pesar dos membros da Academia Petropolitana de Educação, na qual ele ocupava a cadeira nº 01; e dos Membros da Academia Petropolitana de Letras. Nesta, ocupava a cadeira nº 18. 


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