• O Cavaleiro do Ipê Amarelo

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  • 29/08/2016 12:00

    No último dia 16, fez o seu passamento, aos 90 anos, um grande amigo, Sidonio Fernandes, um ambientalista que adorava as árvores em especial o ipê amarelo. Praticamente todos os ipês amarelos que florescem em Petrópolis foram plantados sob sua coordenação. Com belíssima família, teve por esposa a Senhora Janet e os filhos Karlen, Sidonio, Fernando e Fátima. Excelente matéria de autoria da jornalista Rebeca Gehren foi publicada neste Jornal no dia 17. Na matéria o bispo de Petrópolis, Dom Gregório Paixão externa sua admiração por Sidonio: “É uma grande perda, mas deixa como exemplo a preocupação e defesa da ecologia e da vida”. Um outro grande amigo, o poeta João Roberto Gullino, honorário da Academia Petropolitana de Letras, escreve: “ Como podemos definir a vida, pelo seu lado poético, senão pela beleza da natureza que poucos, apesar de saberem apreciá-la, não a cultivam com a necessária sensibilidade e o devido zelo? Omar Kayyam, poeta persa do século XII, criou “o rubai” (a trova persa), e usava a rosa e o vinho para simbolizar o amor e a vida. Acho, porém, que o colibri,

    ( o título do artigo imaginado pelo Gullino é: O colibri e a rosa = a vida e o amor) para representar a vida, tem mais afinidades com a rosa, que representa o amor, pelo menos, no presente caso. Os dois têm mais ligações entre si, perante a natureza, que propriamente o vinho, embora eu não queira contradizer Kayyam, se o vinho será sempre o símbolo da vida.  Portanto, um amigo-colibri, bateu asas e foi apreciar as rosas do além, lá no espaço celestial, que fiscalizará o respeito à natureza – uma missão bem mais leve e suave que lutar pelo ambiente daqui de baixo e todas as dificuldades para “ensinar” sobre tal necessidade.

    E Sidônio Fernandes, advogado ambientalista, mentor da criação da ABAL – Academia Brasileira Ambientalista de Letras, que completou 90 anos no último dia 4 de agosto, parece que estava impaciente para ir aos céus, ensinar os anjos sua “Oração Ambientalista”, abençoada pelos Papas Bento XVI e Francisco, cuja reprodução está afixada numa placa nos jardins do Museu Imperial.

    A nossa passagem do plano material para o espiritual é a consequência da vida mais determinada e, creio, que seja uma bênção divina ao concluímos que nossa missão, por aqui, findou-se. Por mais que aprendamos e acreditemos nos desígnios da vida, talvez seja um passo para a conquista de quem vai, mas para quem fica, é natural a dor da ausência e as lembranças com as quais se habitua a conviver e só o tempo é que poderá cicatrizar tal ferida.”

    É sem dúvida uma pessoa para ser sempre lembrada como pessoa e como personagem importante na história de Petrópolis. As suas andanças pelas ruas da cidade, para verificar os melhores lugares para florir com os seus ipês, me transportou para Miguel de Cervantes, em seu fabuloso livro Dom Quixote de la Mancha.

    “O exercício que professo – respondeu Dom Quixote – não me deixa jornadear de outra maneira. O bom passadio, o regalo e o descanso inventaram-se para os cortesãos mimosos; mas o trabalho, o desassossego e as armas fizeram-se para aqueles que o mundo chama cavaleiros andantes, dos quais eu, ainda que indigno, sou um, e o mínimo de todos.” E, ainda, disse Dom Quixote: “ao sábio, a cujo cargo deve estar o escrever a historia das minhas façanhas, haverá parecido bem que eu tome algum nome apelativo, como o tomavam os cavaleiros passados, que um se chamava “da Ardente Espada”, outro “do Unicórnio”, outro “o Cavaleiro do Grifo” e por  

    estes nomes e insígnias eram conhecidos por toda a redondeza da Terra.” Assim nomeamos Sidonio “o Cavaleiro do Ipê Amarelo”.

    achugueney@gmail.com

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