• O bajulador

  • Continua após o anúncio
  • Continua após o anúncio
  • 29/06/2016 12:00

    Recordamo-nos, e é bem verdade, com alguma decepção, a propósito de um servidor, de nível superior, que prestava assessoramento direto junto a alto dirigente de repartição pública, extremamente conceituada à época.

    Chegando ao trabalho, depois de descer a serra de Petrópolis em direção ao Rio de Janeiro, vez por outra nos deparávamos com o referido profissional, no aguardo de seu superior.

    O prédio em que trabalhávamos era de propriedade da então Rede Ferroviária Federal S.A., situado nas imediações da estação ferroviária da Central do Brasil. 

    Já no destino, descíamos do automóvel, nos cumprimentávamos educadamente e logo dirigíamos à nossa sala de trabalho para dar início ao despacho de processos, a lavratura de contratos e tudo o mais que nos chegava às mãos, para fins de que os encargos sob nossa responsabilidade fossem processados com a devida rapidez, além da absoluta correção.

    Tomamos conhecimento, juntamente com inúmeros colegas, que o referido cidadão, às vezes, por horas, permanecia à frente do prédio aguardando o chefe que a qualquer momento poderia chegar e teria que ser bem recepcionado.

    O ritual era perfeito e observado por muitos.

    De repente, afinal, chegava a autoridade máxima a quem a referida pessoa assessorava nos trabalhos do dia a dia da repartição.

    Ao vislumbrar a chegada do automóvel se deslocava em direção ao mesmo, abrindo rapidamente a porta traseira do veículo, de forma a possibilitar a saída do chefe; e desembarcava, sempre simpático e educado; porém, o assessor, antes mesmo de cumprimentá-lo, “com toda a delicadeza”, retirava de sua mão a pasta pesada que trazia, passando a acompanhar o chefe até o seu gabinete; esse último, caminhando ao lado do assessor, todavia com ar de certo constrangimento ante a atitude do subalterno. 

    A situação era observada e muito comentada por todo quadro técnico da repartição, evidentemente a título de censura. Entretanto, “o carregador de pasta” não se tocava e continuava a agir como se nada estivesse a acontecer, já tendo recebido, por força de sua atuação, um apelido nada simpático. 

    O bajulador, sem dúvida, ante a comportamento tão deplorável, não poderia escapar do que escreveu o poeta:

    “Não te curves, com mesuras, / frente ao forte, ao maioral: / – a coluna não fraturas, / quebras, porém, a moral”.

    Últimas