• O anonimato que nos protege

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  • 15/01/2018 11:20

    O conceito de liberdade é amplo, abrange o direito de ir e vir. Este, quando exercido com simplicidade, encontra a paz que o anonimato nos permite, porque é menos devassada a privacidade. Quando esta é invadida, há uma desestabilização emocional. Por isso que muitos não sabem conviver com a fama.

     No Brasil, artistas, jogadores de futebol e políticos são os mais assediados. Estes precisam administrar a vida pública e a vida privada para que tenham a intimidade preservada.

    O Artigo 3º da Declaração Universal dos Direitos Humanos diz que “todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal”. O Artigo 12º dessa Declaração também se refere a esta questão do direito à privacidade: “Ninguém será sujeito à interferência na sua vida privada, na sua família, no seu lar ou na sua correspondência, nem a ataque à sua honra e reputação. Todo ser humano tem direito à proteção da lei contra tais interferências ou ataques.”

     O Inciso X do Artigo 5º da Constituição Federal de 1988, determina: “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”.

     Em síntese, a privacidade é um direito constitucional, violá-la é um ato inaceitável. Não gosto dos programas que confinam um grupo de pessoas em um ambiente por um determinado tempo, expondo todos os conflitos do relacionamento que há entre elas. Sei que várias pessoas se submetem a isso por dinheiro e consideram-se famosas por participar de um “reality show”.

     Buscar a notoriedade pela exposição da vida privada é um sério risco, porque isso pode trazer problemas psicológicos irreversíveis. Diante desse fato, é preciso ter cuidado com as redes sociais, na qual há uma vasta exposição de fatos e fotos íntimas. O exibicionismo ganhou espaço no mundo virtual.

    A síndrome de Truman já preocupa os psiquiatras, porque esse transtorno psicótico em que a pessoa se sente vigiada por câmeras por todos os lados cresce bastante. Já é considerado um problema do século XXI. 

    Pessoas, querendo fugir da solidão, procuram atrair “seguidores”, expondo a própria vida nas redes sociais. Essa obsessão de querer colocar, no facebook, tudo o que faz durante o dia, leva a uma exposição característica da violação da própria intimidade. A deturpação das imagens expostas pode causar danos morais que nem sempre são ressarcidos na justiça, uma vez que o lado emocional é o que mais sofre.

    Comecei a refletir sobre esse assunto, quando, na sexta-feira, encontrei um amigo em uma banca de jornal. Para colocar a prosa em dia, fomos tomar um café em uma padaria. Nesta, encontramos uma amiga comum que estava ali comprando pão. Ficamos os três conversando, em torno de uns dez minutos, ninguém sacou o celular para fazer selfie, não havia nenhum paparazzo, ninguém nos incomodou. Nós nos despedimos, reforçando as esperanças de um ano novo feliz.

     Ao voltar para casa, vi que o acaso e o anonimato nos proporcionaram alguns minutos de satisfação. Certifiquei-me também que a amizade é fruto de uma convivência, na qual as pessoas respeitam as individualidades. E as diversidades das interpretações sobre a realidade proporcionam uma dialética enriquecedora. A troca de opiniões dinamiza o nosso pensar. Já escrevi muitos textos a partir dos diálogos que tenho com os amigos. Este é um exemplo.

     Considero a amizade um antídoto contra a solidão. Agradeço a Deus a família e os amigos que tenho. Esta é uma riqueza que ninguém nos rouba. 


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