• Nossa riqueza é o otimismo

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  • 17/03/2016 10:00

    Adolpho Bloch foi uma figura controvertida.  Eram dele os maiores feitos da sua empresa, mas também algumas indelicadezas que o faziam temido por seus funcionários, cerca de 5 mil no auge da TV Manchete (década de 80).

    Veio para o  Brasil em 1922 com pais e irmãos, todos fugidos das perseguições que eram comuns na então União Soviética.  Chegou a assistir a pogroms na sua cidade natal (Jitomir).  Daí a sua aversão a injustiças, como costumava proclamar.  Se cometesse alguma, pouco depois pedia desculpas.  Tinha uma forma original de se penitenciar.  Enviava um queijo francês ou uma garrafa de vinho de boa qualidade para a “vítima”.

    De uma feita, na gráfica da rua Frei Caneca, depois do almoço, flagrou um operário dormindo entre as máquinas.  Acordou o indigitado aos berros e com muitos palavrões (ele sabia todos).  O infeliz, depois do susto, partiu pra cima do patrão e deu-lhe um soco que fraturou o enorme nariz.  Na volta do Hospital Souza Aguiar, onde foi medicado, perguntaram ao Bloch iracundo se ele demitiria o funcionário.  Já refeito da raiva costumeira, disse que não: “Ele não tem culpa.  Fui grosso com ele.  Vamos esquecer o assunto.”

    Em 1967, depois da Guerra dos Seis Dias, estive com Adolpho no Estado de Israel.  Visita inesquecível.  Fomos recebidos no Instituto Weizmann de Ciências pelo seu então presidente, o cientista Albert Sabin, benfeitor da humanidade.  Falaram horas sobre meios e modos de ajudar o Brasil a se livrar dos riscos da poliomielite.  Sem nenhum interesse financeiro em jogo.

    Adolpho amava o Brasil.  Amigo de artistas e  políticos, notabilizou-se pela fraterna ligação com o ex-presidente Juscelino, de quem nada recebeu.  Em virtude da cobertura dada a JK, sobretudo após a sua morte, foi  muitas vezes ameaçado de retaliação.  Sua resposta era pronta:  “Podem levar tudo com eles.  Só vim da Rússia com um pilão, o resto foi conquistado.”

    Na década de 40, trabalhou na  Rio Gráfica Editora, tornando-se grande amigo de Roberto Marinho.  Depois, retribuiu às gentilezas recebidas, montando a gráfica da família Marinho.  Tinha uma visão peculiar do que era patriotismo.  Queria construir uma escola em cada  Estado brasileiro.  Fez as duas primeiras, Joseph Bloch em Parada de Lucas e Ginda Bloch em Teresópolis, esta com  um lindo projeto arquitetônico de Oscar Niemeyer.  Doou  ambas ao Estado.  Orgulhava-se de ver os nomes dos seus pais nas camisetas dos alunos.  “Há coisa melhor?” – costumava perguntar após cada visita.

    Sem ter filhos, gostava de ser chamado de Titio.

    Não deixava que suas revistas se caracterizassem por críticas ferozes a quem quer que fosse.  Adotou o mesmo procedimento nas suas televisões e emissoras de rádio.  Contra-atacava  com uma frase que ficou forte como marca da sua personalidade: “Temos que ajudar o Brasil a crescer.  Nossa riqueza é o otimismo.”  

    Adolpho Bloch morreu em novembro de  1995, aos 87 anos. 

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