• Missão que precisa ser profissão

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  • 14/10/2017 12:05

    Comum dizer-se do ofício de educador que é “missão”. Aos olhos crus do leigo, missão sempre parece algo que se faz por recompensas imateriais, movido por chamado superior, vocação espiritual. Daí, se exigir do professor ossos do ofício do monge, essa particular pessoa em missão. Talvez melhor dissesse “sacerdote”, posto que certas ordens impõem ao monge a clausura, que não há como esperar do sacerdote. Nem do educador, sempre cercado de gente. Nos dias de hoje, afogado por alunos em algazarra, pais em procissão de queixumes ou superiores cobrando desempenhos. Mas feita esta ressalva, o senso comum diz que deve o professor-sacerdote, doar-se, não ter hora, renunciar a vaidades, salário digno, casa decente, assumindo cilícios e automortificações monásticas. Como a recompensa do chamado por Deus, Deus é quem dará, ao deus-dará se tem deixado o professor, já que sacerdote ele é. Assim pensam muitos donos de escolas, pais, secretarias, ministérios.

     Professor. Do latim “professus” é “o que se declara em público”, ou “aquele que professa”. “Professar” remete, via de regra, ao testemunho público de crença, vivência notória de religiosidade. Vertente etimológica que só reforçaria o aspecto sacerdotal do ofício de professor. Mas acontece, vejam só, que “professus” dá origem também à palavra “profissão”. E profissão é designação de ofício reconhecido publicamente e pelo qual se recebe paga, salário, honorários, dinheiro, sustento. As profissões se estabelecem como tais em função das corporações de ofício medievais, ou guildas. Lá pelo século XII, entendeu-se que certas ocupações precisavam de pessoas habilitadas. Um mestre treinava aprendizes. Após ser testado, a guilda promovia o aprendiz a oficial da profissão, capaz de, futuramente, ser ele mesmo um mestre. Logo, para existir profissão, houve treino e educação: necessidade de professor! Sem professor, profissão não há. Nem artesãos, padeiros, pedreiros ou ferreiros, na Idade Média; nem, hoje, médicos, advogados, dentistas, engenheiros, balconistas de farmácia ou comerciantes. Todo mundo que tem ofício reconhecido, mesmo reis e presidentes, precisou de professor.

     Mas pode alguém invocar, em defesa dos martírios impostos ao professor nos dias de hoje, o pedagogo. “Paidagogos”, responsável pela educação das crianças na Grécia Clássica. Homem de confiança da família, as levava à escola, protegendo e ensinando. Mas era escravo! É como se sentem muitos educadores, mal tratados por gestores de arcaica visão, esquecidos de que foi abolida a abominável escravidão. 

    A resposta para a humanidade e a solução para o Brasil, estão na universalização da educação. Isso consta dos discursos e propostas eleitorais, dos programas de partidos e governos. O paradoxo é que se pretende atingir tão elevado objetivo sem dar aos professores o que merecem: dignidade. A dignidade de poderem adequadamente se sustentar, viver e sonhar. Países referência na educação, como os escandinavos e os Tigres Asiáticos, não venceram sem valorização do professor. Então, neste Dia dos Professores, gostaria de pedir que sejam eles tratados como profissionais que são. Só assim, corretamente reconhecidos, poderão exercer com altivez, desprendimento e eficácia, a sua nobre missão. Pois, aqui, a ordem dos fatores altera o produto: profissão deve vir antes da missão. Ao contrário de ascetas que jejuam, professor precisa comer. Simples assim.

    denilsoncdearaujo.blogspot.com

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