• Meu querido ex- companheiro

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  • 18/03/2016 10:36

    Não, caro ex-companheiro de esquerda, eu não mudei de lado. Ao contrário, na minha casa continuo com o discurso de honestidade que herdei dos meus pais. Sobretudo de não me apropriar da coisa alheia, de não roubar, não mentir e não prometer o que não podemos cumprir. E principalmente de pagar pelos meus erros.

    Também continuo a acreditar que somente com educação, sobretudo para a classe menos favorecida, construiremos uma sociedade mais justa, como pregava o grande e saudoso Darcy Ribeiro.

    Continuo a acreditar nas crianças, como futuro desse país e também que investir nelas hoje é a única saída para um amanhã melhor. Continuo como sempre, tratando as pessoas com respeito, do mais humilde ao mais rico, porque graças a Deus eu não tenho e nunca tive raiva daqueles que têm mais condições financeiras do que eu, se o dinheiro deles foi adquirido de forma honesta.

    Também não esconderei que continuo adorando e sonhando com Paris, ainda que desde 2010 eu não pise por lá e, mesmo assim, não deixarei de pensar na fome e na miséria cultural do nosso povo que foi iludido como eu, pelos discursos do bom e humilde operário, que se transformou no maior escárnio eleitoral que esta nação poderia ter.

    Sim, eu admito que mais do que meus amigos, eu sou culpada porque eu fui para as ruas com vocês pedir para o PT entrar no poder, em 2002. E, ainda que eu passasse a maior parte da minha vida esperando janeiro para passar as férias em Nova York, eu quis e lutei demais para ver o povo no poder, porque uma coisa não tem nada a ver com a outra. Eu viajava com dinheiro do meu trabalho, já vocês, isto eu não posso mais dizer.

    Então meu querido ex- companheiro, se alguém aqui mudou de lado, este alguém não fui eu, mas foi você, que ao assumir o poder esqueceu tudo que defendíamos nas ruas até 2002 e, aliado à corja do PMDB, formou a maior quadrilha que esta nação já viu. Então porque a errada sou eu?

    Eu continuo gostando das mesmas coisas que sempre gostei, ainda que as tenha diminuído, porque graças à economia que você destruiu no nosso país, eu também fiquei bem limitada, sofrendo a cada dia para honrar minhas contas.

    E continuo querendo justiça, como todos nós clamávamos nas intermináveis reuniões do PDT, independentemente se isso implique em destruir o que vocês alegam terem construído até aqui.

    Não foi esta construção de bens no exterior que eu defendi, nem teria sido a do papai, homem honesto e honrado, que entrou na prefeitura com o triplo de bens que tinha quando saiu.

    Se eu tenho medo do retrocesso?

    Nenhum, caro ex-companheiro.

    Medo eu tenho de um dia ouvir de um filho meu que neste país só os pobres pagam pelos seus erros e todos os políticos são ladrões.

    Tenho certeza absoluta que isso não é verdade, e ainda: dentro da minha casa tenho dois grandes exemplos da minha afirmativa.

    Eu não mudei de lado não, continuo ao lado do meu povo e sobretudo da verdade.

    Quem definitivamente mudou de lado, foi você.

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