• Marca do cinismo

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  • 30/11/2017 12:35

    Meu saudoso pai, Joaquim Heleodoro Gomes dos Santos III foi um cidadão exemplar, responsável, consciente, idealista; amava seu país e seu estado, tendo nascido em Niterói e desde os quatro anos de idade em Petrópolis, onde viveu e batalhou pelos mais sãos princípios, deixou obras perpétuas que o presente reverencia e há de fazê-lo o incógnito futuro.

    Indignava-se com o mal feito, a sem-vergonhice política, e, por literato que era, de fino estilo e raciocínio adequado e sensato, escrevia crônicas para a imprensa, em colunas fixas sob os títulos : “Semanárias”, “Septenárias”, “Pontos de História” e outras, assinando Hebdomadário, Sylvio Raphael, J. Santos – ele apreciava os pseudônimos, de uso corrente naqueles anos 20 e 40 de sua operosa existência. Vivia-se nas políticas centralizadoras da 1ª república e sequência na ditadura getulista e ele – meu pai – funcionário público federal, profissão telegrafista, sem medo de criticar ou exarar perigosos pontos de vista, descascava o que entendia fora dos eixos naqueles idos complicados travestidos de democracia.

    Foi quando o interventor federal em Petrópolis Yeddo Fiuza, atendendo aos proprietários das empresas de ônibus, resolveu acabar com os bondes. A grita foi geral e meu pai, em suas colunas, foi duro e incisivo em defesa da manutenção do encantador serviço. Não deu outra: ele, funcionário público federal, criticando o governo, caiu em desgraça e tudo caminhou para a sua aposentadoria precoce, como castigo ao insubordinado. De nada valeram os excelentes serviços prestados na carreira dignamente exercida, certo que ele ousou demais naquele Estado Novo de arrocho total.

    “Seu Joaquim” deixou a repartição sob aplausos e manifestos escritos pelo seus colegas superiores, sendo lindos e tocantes os elogios na carta de despedida a ele endereçada pelo agente dos Correios e Telégrafo Walter Bretz.

    Continuou ele sua vida, família numerosa, ajudando no crescimento da Escola de Música Santa Cecília e criando projetos em favor do Municipio, que o tornou cidadão petropolitano e, quando faleceu, prestou-lhe a honra da denominação de uma rua, que fica lá para os lados do Loteamento Itamarati .

    Pois, então, como explicar o título desta crônica “Marca do Cinismo”, se nela retrato uma figura ínclita como meu pai?

    Joaquim Heleodoro amava Petrópolis, o Rio de Janeiro, o país, sob orgulho de ser brasileiro. E, verdade pura, estaria hoje infelicíssimo com o quadro de homens públicos da infeliz unidade da federação. Sempre votou nos melhores, com muita esperança, tinha seus ídolos, como Nilo Peçanha, abominava as ditaduras e não conheceu – felizmente para ele – o moreirafranco (solto sob a imunidade de ministro) e esses outros que estão na cadeia. E, principalmente, a cria do melífluo Garotinho, de sobrenome Campos – nem guardo seu nome próprio – , uma das piores figuras da péssima política fluminense e brasileira em todos os tempos.. Este indivíduo carrega um cinismo gigantesco em tudo o que faz e onde põe a mão, marca que ficará na política do continente como uma chaga imperdoável de quantos o apoiam, defendem, dão-lhe mordomias e, em pouco tempo,o soltarão dos grilhões para que vá pelo mundo gastando a rodo o suor de nosso povo, com aquela cara zumbítica de vítima e sob bamboleio pelos corredores e trilhas que passam dos palácios para as masmorras.

    Meu pai estaria estarrecido porém jamais descreria da república e da democracia, porque sempre esperançoso, o bem e a dignidade eram componentes de seu brasão de armas. Nascido no Império, acompanhou a vida político-social do país a partir de um golpe que implantou a república, que ele absorveu como, de resto, até hoje, absorvemos embora com muito sofrimento.

    E temos que suportar as expressões do cassado deputado Campos, o gingar de Campos, os olhares agudos de Campos…

    Ai, um laxante forte, por favor!

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