• Mais de 60 lojas fecharam na Rua Aureliano Coutinho

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  • 24/03/2016 08:40

    O principal polo de moda de Petrópolis, a Rua Teresa, está sendo diretamente impactado com a crise econômica nacional. As vendas nas lojas caíram cerca de 50% nos primeiros três meses deste ano comparando com o volume registrado em 2015. Só na Rua Aureliano Coutinho, mais de 60 lojas fecharam as portas. Para o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Petrópolis, Marcelo Fiorini, a crise política que o país vive agrava mais a situação que já estava complicada. Ele ressalta que o fato de ter dezenas de lojas na beira da rua fechadas mostra um cenário preocupante para o comércio da cidade. 

    Com a diminuição da procura, até os valores dos aluguéis abaixaram. Em locais como na Via Thereza, uma galeria que fica à direita de quem está subindo a rua, há lojas sendo alugadas por R$ 800,00. No local há 23 lojas fechadas. Alguns proprietários em outros pontos também desistiram de cobrar as luvas. Em outros locais o valor chega a R$ 2 mil. 

    Em todo o trecho do polo de moda é possível perceber que o movimento diminuiu. Nas ruas, o número de sacoleiras é pequeno, o que reflete no interior das lojas, onde a procura por produtos caiu. Segundo as vendedoras, o comércio precisa dos turistas, que são os responsáveis pelo aquecimento da economia. Isso porque o cliente, que é da cidade, compra menos. Porém, o número de visitantes no polo de moda, despencou nos últimos meses. 

    Quem ainda resiste conta que a situação está difícil. Esse é o caso da gerente Mariléa Schmid Mariano, que trabalha há 20 anos na Rua Teresa. Há 6 anos ela está trabalhando com uma marca que é de Minas, mas possui uma loja na Rua Visconde do Bom Retiro. A gerente disse que houve queda das vendas, principalmente, para produtos que são caracterizados como “modinha”. “O público está procurando o básico, peças que vão usar o ano inteiro, que é o jeans”, contou. Para ela, é preciso adequar a realidade dentro das perspectivas que existem no momento. “Houve uma mudança no comércio de uma maneira geral e cada empresa está procurando se adaptar a ela”. Apesar disso, Mariléa destacou que já viveu outras crises, como no período em que o ex-presidente Fernando Collor estava no poder. “Mas a deste ano com certeza é a pior. Vivemos com um nível de insegurança imenso”, destacou. 

    Na loja onde a Isabel, que preferiu não informar o sobrenome, é vendedora, as vendas caíram 50%, comparando com o mesmo período de 2015. “Os compradores do Rio não estão subindo. Além disso, a crise nacional está impactando o movimento aqui. A Rua Teresa depende do turismo”, comentou, acrescentando que a crise no polo de moda começou em 2009. Depois voltou a ficar aquecida, mas em 2011 piorou com a tragédia que atingiu o Vale do Cuiabá naquele ano. Para a vendedora, é preciso investir mais em divulgação. Ela destacou também o alto valor dos estacionamentos, que chegam a cobrar R$ 7 por hora e também o preço do pedágio – R$ 11,20. 

    Para alguns empresários a situação chegou a um nível extremo e não é mais possível suportar, uma vez que as vendas não cobrem mais as despesas. Geci Cordeiro, tem uma loja na galeria Danel há 11 anos e é vendedora na Rua Teresa há 32. Ela contou que têm dias que passa sem vender uma peça e o dinheiro que entra não é suficiente para pagar os gastos com aluguel, por exemplo. A gerente colocou os produtos da coleção de inverno em liquidação e anunciou emocionada: “Vou fechar. Não vai ter jeito. Estou tirando do bolso para colocar aqui”, disse, comentando que no local era difícil ver uma loja fechada, porque sempre tinha fila de espera e, agora, são poucas as que estão abertas. 

    Para o Sicomércio não há indícios de melhora do cenário a longo prazo

    Marcelo Fiorini observou que a situação política instável paralisa o país. Com isso, a maior parte dos consumidores opta por gastar apenas o necessário e, nesse contexto, até a fatia referente aos supermercados está registrando queda nas vendas. Sobre a Rua Teresa, especificamente, explicou que não há esperança e nenhum indício de que haverá mudança. 

    “Vemos que as pessoas estão comprometidas com o orçamento e sobra pouco para o consumo no comércio. O cliente está retraído. A queda até nos supermercados mostra que a situação é complexa”, comentou. 

    Para ele, algumas medidas ajudariam, como investimentos em propaganda que eram feitos, mas foram suspensos desde que a prefeitura deixou de fazer o repasse no valor de R$ 15 mil, que tinha essa finalidade. “Estamos entregues à própria sorte”, lamentou. 

    Até no Serra Shopping, que sempre manteve cerca de 95% das lojas alugadas, está enfrentando a crise. São pelo menos 17 lojas fechadas, atualmente. “Com esse cenário, o empresário perde o ânimo para investir”. Fiorini comentou que ainda existe a venda para o público qu mora no Rio de Janeiro, mas que também sofreu queda porque muitos desses clientes optam por fazer as compras na feira em Caxias. Um dos motivos é que é mais perto e, assim, eles economizam com os custos de combustível, pedágio e estacionamento. 

    Com o lançamento da nova coleção, ele espera que haja uma melhora em comparação com os meses de janeiro, fevereiro e março, mas nada que vá superar o que era registrado nos anos anteriores. Para o presidente do Sicomércio é preciso que o poder público pense a cidade com um todo, para que possa evoluir. “O município precisa de planejamento, investimento em mobilidade urbana e investimento em divulgação”, afirmou. 

    Claudia Pires, presidente da Associação da Rua Teresa (ARTE) afirmou que está sendo preparado um mapa do polo de moda, para que seja possível ter uma dimensão do atual cenário. “Percebemos que muitas lojas fecharam e o movimento vem caindo desde outubro do ano passado. Além disso, alguns aluguéis continuam caros, o que desestimula o empresário”, comentou, argumentando que essa situação reflete a economia do país como um todo e o fato de que as pessoas estão inseguras para gastar. 


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