• Lula walking dead

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  • 27/01/2018 14:00

    Mesmo com os inevitáveis recursos que virão, a condenação de Lula no TRF4 encerra longa sequência da novela de terror que se tornou a persistência desse zumbi político sempre a, depois de enterrado, crispar a mão para fora da tumba no último minuto do filme, anunciando que o morto ainda respira. Como disse Hélio Bicudo, ex-petista como eu: “o Brasil tinha de virar essa página suja de uma vez por todas”.

    Num país de muitos privilégios a poucos, país de castas burguesas e bezerros humanos sugando as tetas da República, parece que ainda há quem não perceba o quanto Lula se tornou burguês de alta casta, privilegiado de alto coturno. Como ascendeu, achou que herdara prerrogativas da nobreza sangue azul lusitana, jamais incomodada por inferiores de sangue fraco, ainda que promotores de justiça, mesmo que juízes de direito. Lula cultivou cuidadosamente lenda própria, do retirante operário mutilado na fábrica, ser mítico discursando no estádio com helicópteros da ditadura sobrevoando a multidão, analfabeto que vai da miséria absoluta ao poder central, para ser vingador dos pobres. Mitologia fraca, mas que a máquina cultural da esquerda, primeiro, e a boa e corrupta propaganda governamental, depois – movida a rios de propina – se encarregou de dourar como se Lula fosse o maior governante de todos os mundos em todos tempos, porque… Por que mesmo? Ah, porque dava Bolsa Família.

    Clientelismo descarado, um populismo barato, subperonismo rosado, absolutamente sem qualquer compromisso com as bandeiras da esquerda que deu a Lula o prato em que por tanto tempo comeu e no qual passou a cuspir para embebedar-se de vinhos finíssimos com o que de pior havia na direita brasileira. A classe C comeu iogurte, mas os bancos e as grandes empresas nunca lucraram tanto. Números de isenção indiscutível – os da pesquisa assinada pelo novo guru das esquerdas, Tomas Piketty – mostram que, ao contrário da propaganda, por força da concentração de renda no topo da pirâmide, a desigualdade aumentou. Com Bolsa Família e tudo. Lula governou para os ricos dando migalhas aos pobres, é a conclusão.

    Merece condenação política, e o esfarelamento do PT já oferece esse quadro. Merece condenação criminal, pois corrompeu, foi corrompido, e ainda estimulou e fez vista grossa à corrupção. São crimes comuns, cuja condenação proclamada só prenuncia as que ainda virão. Tentar tornar isso perseguição política, inclusive com a feira de gritaria de manifestantes profissionais, que se viu em Porto Alegre, é expediente de traficante preso, dono de morro que manda descer a favela no dia de apresentar-se ao fórum, como se o apoio da população refém de seus caros favores pudesse apagar dos autos dos processos a multidão de provas que o condenam.

    Se o fiapo de gente digna que ainda se oculta nesse PT despencado quer vida após Lula, já passou da hora de livrar-se do zumbi trôpego, puro Walking Dead político, que o arrasta à derrocada final. Passou da hora de admitir erros, fazer autocrítica e dispor-se a recomeçar com humildade e democracia novo diálogo à esquerda, que restaure a possibilidade de visão alternativa a esse país “peemedebizado”, que sonhe a busca de “outro mundo possível”, que não privilegie reformas contra o trabalhador em favor do capital, que não esmague o fraco em prol do forte, que não premie a grande indústria em detrimento da microempresa. E, acima de tudo, que não admita corromper nem ser corrompido.

    denilsoncdearaujo.blogspot.com

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