• Gilmar Mendes, o culto ao despudor

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  • 22/08/2017 12:15

    Ele se acha. Imagina e acredita que vive no Olimpo, onde entende que deve reinar sozinho, absoluto. Habitação coletiva de divindades greco-latinas, segundo a mitologia, ainda assim, recusa-se a dividi-la com quem quer que seja e especialmente com seus pares do Supremo Tribunal Federal.

    Prima pela arrogância e é extremamente agressivo. Não respeita ninguém, mais grave, nem a si próprio. Fruto de incontrolável borra mental, sai atropelando deus e o mundo, contanto que não possam servir a seus interesses, confessados ou não. Trata desafetos e oponentes como foi acostumado a tratar capangas em Mato Grosso, nas palavras de Joaquim Barbosa, ex-ministro e ex-presidente do STF.

    Com passagem de estudos ligeiros pela Alemanha e como arranha alguma coisa em alemão, entende-se o mais preparado jurista do hemisfério, quiçá do universo. Com essa equivocada visão sobre sua própria pessoa se posiciona distante do comum dos mortais, sempre com soberba. Não vê que ninguém lhe dá mais credibilidade, como juiz e como ser humano, a não ser aqueles que se deixam enganar pela postura duvidosa que ostenta, já  bastante conhecida. 

    Nessa linha, Gilmar Mendes também não guarda a menor consideração pelas instituições, obrigação elementar em função do elevado cargo que ocupa, descumprida permanentemente e sem a menor cerimônia. Veja-se a estúpida hostilidade que manifesta contra o Ministério Público, em todas as suas instâncias, que se estendem do procurador-geral da República ao mais singelo e anônimo membro da força-tarefa da Lava-Jato. De igual modo, alcança a magistratura, como o fez recentemente em relação ao juiz Marcelo Bretas, que, instado pela mídia, deixou de respon der ao ministro, em obediência à Lei Orgânica da Magistratura Nacional – Loman, subvertida de modo constante por Mendes. 

    Agora mesmo, não registra o menor incômodo em conceder habeas corpus a Jacob Barata Filho, pai de sua afilhada de casamento, casada com um sobrinho de sua mulher, e a tantos outros em circunstâncias semelhantes, sob invocação da inexistência de dispositivo legal que o impedisse de atuar no processo. Lá atrás, teve igual procedimento quando da prisão de figurões do mundo dos negócios no Brasil, envolvidos em crimes do colarinho branco, libertando-os sem nenhum constrangimento. É o velho Gilmar que, sem o mínimo de pudor, mandou a ética às favas, como antes já o fizera com a modést ia, em sessão do Tribunal Superior Eleitoral, que absolveu, sob sua liderança, o presidente Michel Temer de crimes eleitorais, ainda que acusado e processado com respaldo em provas robustas e incontestáveis.

    Bem, é assim que vem cultuando o despudor e o atrevimento, a insensatez e a sensaboria, levados às últimas consequências. É o que ocorre quando, na condição de conselheiro-mor de Temer, mantém com o presidente encontros frequentes e fora de agenda no Palácio do Jaburu, marcados pela desfaçatez, ao interferir, por exemplo, na nomeação de gregos e troianos, a seu talante e em atenção a propósitos que não resistem aos mais corriqueiros valores republicanos.

    Gilmar Mendes somente para quando é enfrentado, como tem feito no Supremo o ministro Luís Roberto Barroso, este sim, jurista culto e sensível, que engrandece a magistratura nacional. É o que se esperava de Rodrigo Janot, procurador-geral da República, insultado com violência inaudita por Mendes, chamado de incompetente e por ele considerado o mais despreparado da história do Ministério Público. É uma pena, calou, quando deveria tê-lo confrontado, não apenas em seu nome, mas em honra da instituição que representa.

    paulofigueiredo@uol.com.br 

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