• Depois da crise, gasolina em Petrópolis ainda é das mais caras do país

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  • 01/06/2018 17:10

    O presidente da Petrobras, Pedro Parente, apresentou sua carta de demissão no final da manhã desta sexta-feira (1°) na esteira da crise provocada pela longa greve dos caminhoneiros – seguida pela paralisação dos petroleiros -, que colocou em questão a política de preços de combustíveis da estatal. Em Petrópolis, o preço da gasolina subiu mais de 17% nos últimos 12 meses e hoje já é possível encontrar o litro sendo vendido por mais de R$ 5 em alguns postos. Nos últimos dias, mais do que nunca, ecoa a pergunta: se o Brasil é quase autossufciente em petróleo, por que pagamos uma gasolina tão cara?

    Acompanhando os altos valores do estado do Rio de Janeiro, Petrópolis tem uma das gasolinas mais caras do Brasil. O último levantamento realizado pelo Procon, no mês de maio, em 25 postos do município, encontrou valores entre R$ 4,79 e R$ 5,39 na gasolina comum, R$ 4,79 até R$ 5,49 na gasolina aditivada, valores entre R$ 6,29 e R$ 6,49 na gasolina premium, R$ 3,49 e R$ 4,09 no etanol, e R$ 3,82 e R$ 4,19 no preço do diesel. Em um ano, o preço dos combustíveis em Petrópolis subiu oito vezes mais que a inflação, que foi de 1,89%, conforme o Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M). Deste modo, o preço na cidade está 14% acima da média nacional, R$ 0,60 a mais do que o preço geral no país. Os dados são de um levantamento feito pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), na última semana do mês de abril.

    Desde julho de 2017, a Petrobras passou a cobrar pela gasolina e pelo diesel de acordo com as oscilações do mercado internacional de petróleo e do dólar – não importa que elas fossem diárias. Era uma versão inédita de outros mecanismos de reajuste usados no passado, tendo a cotação internacional como referência. Os aumentos frequentes já causavam inquietação e havia críticas, por exemplo, à escalada do preço do gás, que penalizava especialmente os mais pobres. Entre a abril e maio, o problema explodiu: por causa de instabilidade em grandes países produtores, como Irã e Venezuela, o barril do petróleo foi de 68 dólares a mais de 80 dólares em semanas. Só no último mês houve mais de uma dezena de flutuação de preços, exibindo a exposição do mercado interno às bruscas oscilações globais. Aí veio a crise dos caminhoneiros. 

    Para o economista Maurício Canêdo, professor da Escola Brasileira de Economia e Finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV), não há solução fácil para a política de preços da Petrobras e a gasolina no Brasil não está entre as mais caras nem entre as mais baratas no mundo. De fato, de acordo com o ranking da consultoria Global Petrol Prices, o Brasil está na 91ª posição das gasolinas mais caras, ficando atrás de países como a Noruega, onde se paga R$ 7,44 por litro, e da Holanda, que vende o litro a R$ 7,11. 

    No entanto, se levarmos em conta o salário mínimo no Brasil, no valor de R$ 954, o litro da gasolina em Petrópolis, que está custando entre R$ 4,79 e R$ 5,39, corresponde a 0,5% do salário. Isso significa que para encher o tanque (cerca de 55L em carros populares), o brasileiro gasta em média R$280, ou 29,3% do salário mínimo. Mas, no geral, um tanque cheio não é suficiente para chegar ao fim do mês.

    O locutor Gabriel Alan Andrade usa o carro para ir trabalhar. Todos os dias ele percorre em torno de 60 km para ir e vir. Ele enche o tanque pelo menos três vezes por mês. Mas ele afirma que depois da greve dos caminhoneiros está avaliando a possibilidade de passar a ir trabalhar de ônibus pelo menos três vezes por semana, desde que o litro da gasolina passou de R$ 4,99 para R$ 5,19 no posto onde abastece. "O diesel baixou, mas a gasolina aumentou!", afirma. "A gente tinha a esperança de que a greve dos caminhoneiros baixasse o preço não só do diesel, mas da gasolina também. Se não baixasse, que pelo menos mantesse o preço. Mas a verdade é que já aumentou R$ 0,20 depois da greve".  Em três dias usando o ônibus, Gabriel conta que economizou R$ 60.

    O economista Marcelo Scistowicz aponta alguns pontos como parte do problema que fazem com que os combustíveis tenham esse valor no Brasil, mas para ele a principal forma de reduzir o valor seria reduzindo a carga tributária, que hoje corresponde a 45% do preço da gasolina e 29% do diesel cobrado nas bombas.

    Para Scistowicz, a crise gerada pela política de preços da Petrobras está diretamente ligada a uma "falta de identidade" na empresa. "O cenário ideal seria a Petrobras escolher um perfil e seguir: ou ela é privada ou ela é estatal. Como isso não é possível hoje, ela precisa encontrar um equilíbrio para gerir uma empresa que é, ao mesmo tempo, privada e estatal – de maneira a dar lucro para acionistas (que correspondem a 49% da empresa) e teria que trabalhar com preços mais em conta para a população, até subsidiando os combustíveis, visando o seu lado estatal (de 51%)".

    Além disso, para o economista, a empresa precisa se recuperar de alguns problemas, como as consequências de "anos de ineficiência administrativa", tampar um "rombo financeiro", além de enxugar um quadro de funcionários, na opiniãio do economista, inchado. "Empresas do mesmo porte da Petrobras costumam ter no máximo 60% do número de funcionários que a empresa tem"

    Por fim, o economista levanta uma antiga, subestimada e muito mais sustentável bandeira: "Uma alternativa para esse problema o Brasil teria, mas até hoje não compraram a ideia, que seria o Etanol. Abrir até que fosse uma outra empresa estatal só de combustível alternativo. O Brasil tem áreas enormes, como o Nordeste, que poderiam ser usadas para plantação da cana de açúcar". De acordo ainda com o Marcelo, o etanol ainda não é tão barato quanto poderia ser porque o país não investe o que deveria investir em pesquisa e tecnologia na área.

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