• Contra opinião

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  • 04/01/2018 11:30

    É de estarrecer o artigo(?) de Ebenézer Anselmo publicado na edição da Tribuna de 30/12/17 na seção Opinião com o título O céu ou o inferno? É sua marca um habitual posicionamento exacerbado  à direita (reacionário?) nos escritos trazidos a público por esse jornal, sendo necessárias boas doses de paciência, tolerância e respeito por opiniões diversas para que ainda se leiam. 

    Em primeiro lugar deve ser notado que não tivemos uma "Revolução de 1964". Tivemos, isso sim, um golpe de estado militar com a subsequente instalação da ditadura. Um processo que causou enorme sofrimento com a extinção prematura e deliberada de vidas humanas e a desestabilização de inúmeras famílias. Nenhuma realização positiva consegue ofuscar essa funesta e dramática realidade.

    É inconcebível que um brasileiro ilustrado, com ampla experiência de vida, venha enaltecer o Milagre Econômico Brasileiro esquecendo que tal milagre causou ao País a insolvência, a hiperinflação e o empobrecimento quase generalizado do seu povo; e que levou à submissão aos desígnios dos credores internacionais por completa dependência financeira. Ao aparente milagre econômico sucederam-se anos cinzentos de retrocesso ou estagnação no desenvolvimento econômico e social, em consequência da falta de recursos e por gerenciamento incompetente.

    E o que dizer sobre o apelo para que estimulemos os militares a tomarem, mais uma vez, o poder?

    A tomada do poder pelos militares só poderia vir a acontecer com um golpe de estado, como em 1964, em decorrência de circunstâncias anormais – especialmente em caso de colapso das instituições democráticas. Não é, claro, o que hoje acontece e não se vislumbra que venha a acontecer. Acresce que o Mundo atual é muito diferente de há cinquenta anos, a conscientização do povo quanto aos males da ditadura é generalizada e nenhum país que se preze, pelos seus militares, vai por esse caminho aventureiro extremamente perigoso e danoso.

    E mais: os militares teriam de querer e tudo indica que não querem. Quando, vinte anos após o golpe de 64, devolveram à sociedade civil a condução dos destinos do País, fizeram-no porque a ditadura sucumbia e não tinham mais condições de governar.

    Argumentar que os militares "são a nossa última esperança para escaparmos da venezuelização do nosso pais" é patético: na realidade, os militares na Venezuela é que dão sustentação ao ditador da atualidade. Não há a menor possibilidade de o Brasil ser amanhã a Venezuela de hoje!

    Nesta época de dificuldades sofridas, mas transitórias, não devemos olhar lá para trás e ver tudo colorido, com saudosismo melancólico; muitos acontecimentos devem ser revisitados em preto e branco, realisticamente.

    Quem viver verá nem céu nem inferno: verá um meio termo de ambos, um purgatório onde, como estamos habituados, haverá boas e más pessoas que viverão bons e maus momentos. Haja esperança e fé na humanidade.

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