• Contra a cultura do estupro

  • Continua após o anúncio
  • Continua após o anúncio
  • 09/06/2016 11:43

    O estupro de uma jovem de 16 anos por 33 homens chocou o país. Além da violência física, divulgaram na internet vídeo com imagens da menina desacordada, enquanto seu corpo era manipulado tal como um objeto. O caso trouxe à tona discussões permanentes nos movimentos sociais feministas, tais como a violência contra a mulher e a cultura do estupro.

    Na contramão da defesa das mulheres, alguns setores contorceram o debate para duas frentes evidentemente machistas: pesquisar características específicas da vítima, com o objetivo de culpabilizá-la pela violência sofrida, ou seja, fazer parecer que ela é a culpada, e fomentar discursos de ódio e incremento da penalização, com defesa de pena de morte ou castração química.

    O debate sobre o estupro merece sempre ter o mesmo ponto de destaque, que é o machismo estrutural e enraizado em nossa sociedade, construindo e reproduzindo diariamente a cultura do estupro. Cultura, cuja realidade é de uma mulher estuprada a cada 11 minutos. Portanto, não há tentativas de culpabilização da vítima que expliquem esse número. Tampouco é possível buscar limitar suas liberdades garantindo que “não aconteceria se estivessem em casa”, uma vez que, segundo o Ipea, 70% dos estupros são cometidos por parentes, namorados ou amigos da vítima.

    Se o centro da questão é o machismo,o patriarcado e a cultura do estupro, não será a violência ou discursos de ódio oportunistas que resolverão a questão. Nos últimos dias, alguns grupos que nunca se colocaram em defesa da discussão de gênero se aproveitaram do momento para fomentar punições que não dialogam com a raiz do problema, já que não querem transformar essa realidade.

    Nesse sentido, pedir penas de morte, castração ou mesmo endurecimento de pena não tem qualquer relação com o fim dessa cultura perversa. Momentos como esse devem servir como freio para qualquer tipo de projeto como “escolas sem partido”. Esses modelos criariam um monopólio de discurso machista e opressor que se reproduziriam multiplicando a violência contra mulheres e outras minorias políticas no Brasil. 

    É o momento de fomentar a discussão sobre gênero, liberdade, emancipação e empoderamento para que nunca mais se esqueçam e nunca mais aconteçam casos de estupro seja por 33, seja por 1. São as mulheres por elas mesmas e só a educação e a discussão de gênero transformarão a realidade machista que enfrentamos diariamente.

     

    Últimas