• Contorno sofre, seis meses depois da cratera

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  • 06/05/2018 12:00

    Seis meses depois da abertura de uma cratera às margens da rodovia BR-040, na altura do quilômetro 81 da pista de descida da Serra, ainda não há previsão para o retorno das 55 famílias que moravam na comunidade do Contorno e tiveram suas casas interditadas pela Defesa Civil (DC). O buraco, de cerca de 20 metros de profundidade, abriu na manhã do dia sete de novembro do ano passado engolindo uma casa e deixando outra parcialmente destruída. A cratera abriu no local onde a Concer – concessionária que administra a rodovia – fazia as escavações para a construção do túnel que faz parte das obras da Nova Subida da Serra que foram paralisadas em 2016. Sem laudos que comprovem a segurança do local, a sensação dos moradores ainda é de medo em retornar as casas.

    "Não preservaram a vida quando abandonaram as obras da nova subida da serra como vamos acreditar que agora estão zelando pela nossa segurança? Algumas famílias querem retornar para o local onde moramos por muitos anos, mas para isso a Concer e os órgãos públicos precisam nos garantir que a região está totalmente segura", disse um dos moradores mais antigos da comunidade do Contorno, conhecido como Vale da Escola, Haroldo Wayand. 

    Na última quarta-feira (2), técnicos da Defesa Civil, engenheiros contratados pela Concer, o procurador da república Charles Stevan da Motta Pessoa do Ministério Público Federal (MPF) e um grupo de moradores estiveram na região para vistoriar as casas. As famílias propuseram que a Concer apresentasse um plano de ação para recuperação da área antes que a área fosse liberada. A concessionária tem uma semana para elaborar o documento e protolocar no MPF.

    "O objetivo é saber quais serão as medidas adotadas pela Concer para que haja o retorno com segurança dos moradores. Eles terão que apresentar as ações e um cronograma dessas intervenções", explicou o procurador da República. Segundo a moradora Angélica Domingas Proença, a comunidade quer garantias para voltar as residências. "Queremos que a Concer faça uma revisão da rede de drenagem, restabeleça a iluminação pública, restaure o acesso a algumas casas e do abastecimento de água, contenções entre outros pontos", disse a moradora.

    Antes da vistoria na região, os moradores e o procurador da República tiveram uma encontro com os engenheiros contratados pela Concer que as obras de escavação do túnel não tiveram ligação com o afundamento do solo. "Eles disseram que o túnel está seguro e intacto no local onde houve o desabamento e que não teve ligação com a cratera, mas confirmaram que o mesmo está inundado. Não vamos simplesmente acreditar nesta versão, por isso estamos cobrando da Concer a drenagem do túnel para que depois possamos fazer uma vistoria e assim garantir a nossa segurança", disse Angélica.

    A versão apontada pela Concer também foi questionada por outros moradores, como Cristiano Lopes Duarte, que também participou da reunião e da vistoria nas moradias na última quarta-feira. "Assim que garantirem a segurança retorno para a minha casa. O que a maioria quer é que a vida volte a normalidade, que possamos voltar aos nossas residências com segurança. Não acredito na versão de que o túnel não causou a abertura da cratera, mas se isso foi verdade queremos fazer uma vistoria no túnel, que no momento está inundado", destacou o morador.

    Segundo o procurador da República, os laudos de seis empresas contratados pela Concer serão analisados também por técnicos do MPF. "Eles apresentaram os estudos deles que serão anexados aos inquéritos, mas também faremos nossos estudos. As causas da desmoramento não fazem parte do plano de ação, mas continuam sendo alvo dos inquéritos", explicou Charles Stevan.

    Meia pista foi liberada no último domingo

    Os relatórios e laudos emitidos pela Concer entregues a Defesa Civil e a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) permitiram que a concessionária reabrisse meia pista da rodovia BR-040, na altura do quilômetro 81, que estava interditada desde o dia que a cratera se abriu. Parte da rodovia foi liberada ao tráfego no último domingo (29). 

    "Quando falaram que iriam reabrir a pista exigimos uma reunião para saber sobre o monitoramento da área. Trafegam por aquele trecho caminhões pesados e quando morávamos lá já sentíamos trepidações dentro de casa quando esses veículos pesados passavam. Como será agora, com parte da via liberada? Queremos monitoramento constante na região. Todas as questões precisam ser respondidas pela Concer", ressaltou outro morador, Paulo Proença. Após a liberação a via, a concessionária deverá emitir estudos periódicos do trecho a Defesa Civil. 

    Ajuda aos moradores continua mantida

    Com as casas ainda interditadas, a Concer continua pagando o auxílio aluguel no valor de R$ 1 mil e distribuindo cestas básicas. A concessionária também mantém um imóvel alugado para abrigar a Escola Municipal Leonardo Boff, que também foi interditada pela DC. A nova casa fica localizada no bairro Duarte da Silveira, onde estão os 78 alunos do ensino fundamental. 

    A ajuda aos moradores faz parte de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) assinado entre a Concer a Defensoria Pública na semana do incidente. A concessionária deverá manter o assistência as famílias com o pagamento do auxílio moradia, a distribuição de cestas básicas e também o transporte dos alunos até que a situação na região seja normalizada. A Concer também negocia com os moradores das casas que foram destruídas pela cratera a melhor forma de indenização. 

    "Conseguimos manter que esse acordo que garante a nossa ajuda seja mantido até que possamos voltar para casa. Quem não puder ou não quiser voltar, com medo, serão feitas outras negociações com o apoio do MPF", explicou Angélica Domingas Proença.

    Cratera foi fechada, mas outras intervenções ainda não aconteceram

    A cratera aberta às margens da BR-040 foi fechada pela Concer dez dias depois do incidente, única intervenção visível feita pela concessionária na região até o momento. A Tribuna questionou a concessionária sobre novas ações no local e no túnel, mas a Concer não respondeu. 

    Em nota, a concessionária ressaltou apenas que as "investigações técnicas desvinculam o túnel ao afundamento do solo e que o mesmo já foi corrigido". A Tribuna também questionou a Prefeitura sobre novas intervenções no local, mas o governo não informou se a Concer apresentou planos de recuperação tanto da área quanto do túnel que possam garantir a segurança e evitar novos desmoronamentos.

    A equipe da Tribuna também questinou a Agência Nacional de Transportes Terrestres sobre as obras do túnel e da região afetada pela cratera, mas até o fechamento da matéria a equipe não obteve a resposta.

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