• Concer decide não demolir casas da Comunidade do Bambuzal

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  • 26/01/2016 12:00

    Na manhã de hoje, os moradores da comunidade do Bambuzal viveram mais um capítulo do drama das ações de demolição que colocariam abaixo suas casas. Pela terceira vez, a decisão da 1ª Vara Federal de Petrópolis não aconteceu e as casas que ficam às margens do Km 57 da rodovia BR-040, em Barra Mansa, próximo ao distrito de Pedro do Rio, não foram demolidas. Porém, hoje foi deixado claro aos moradores que não seriam feitos mais avisos prévios, sendo que eles já estão cientes da decisão judicial. Às 10h a oficial de Justiça, a Polícia Militar, o P2 da PM, e a Polícia Rodoviária Federal deixaram a localidade. Questionada quanto à falta de fiscalização das ocupações ao longo dos anos, a Concer não respondeu à Tribuna até a publicação desta matéria. 

    De acordo com o chefe da 6ª Delegacia da Polícia Rodoviária Federal, Guilherme Fabrício do Nascimento, a decisão judicial “não foi cumprida, pois a Concer não forneceu os meios”. Para este mês estavam previstas três demolições, porém com a união da vizinhança e com o apoio da Prefeitura Municipal, da Secretaria de Trabalho, Assistência Social e Cidadania (Setrac) e do Centro de Defesa dos Direitos Humanos (CDDH) nenhuma delas aconteceu. No dia 13 deste mês uma reunião entre o presidente da Concer, Pedro Jonsson, e os moradores da região foi mediada pelos procuradores da República e do Município, Charles Stevan e Marcos São Thiago. Na mesma semana Jonsson pediu a suspensão das demolições, que foi negada pela 1ª Vara Federal de Petrópolis, que alega que o processo já foi transitado em julgado. 

    Segundo a secretária da Setrac, Fernanda Ferreira, a Secretaria do Patrimônio da União já é a favor das regularizações fundiárias. “Estamos desde 2013 lutando pelos direitos dessas pessoas e as famílias que moram aqui chegaram antes da concessionária administrar a rodovia. Nesse caso, quando entrou deveria ter feito um levantamento”, diz. 

    A casa que seria demolida é a de José Roberto da Silva, mais conhecido como Pastor. Com 60 anos de idade, o carpinteiro que mora na casa com a esposa, o filho e os netos contou que a insegurança e o medo são os piores sentimentos que rondam a região. “É uma falta de respeito com o ser humano. Sou um trabalhador que saio às 6h e muitas vezes volto às 19h, isso é constrangedor. Minha casa não está atrapalhando em nada, quem mora em áreas de risco não tem mesmo condições de continuar, mas quem não tem esse problema, que fosse dada a legalidade das moradias para vivermos sossegados”, afirma. 

    O Senhor José Roberto disse que está incomodado com a situação e contou ainda que já procurou uma casa para se mudar, porém que o preço dos aluguéis está muito alto e que a família não tem como arcar com a despesa. 


    O clima é de insegurança e instabilidade

    Novamente uma barreira humana foi construída para evitar a entrada na casa. A união das pessoas que residem às margens da BR-040 e também são ameaçadas a ficar sem moradia é uma forma de literalmente dar as mãos e somar as energias para enfrentar o momento. Um carro também foi estacionado em frente à casa para impedir uma possível entrada. 

    “Esperaram eu morar aqui 22 anos. Contruí um sonho com muita luta para chegarem aqui e dizerem que temos que sair. Isso é muita humilhação”, desabafou em voz alta dona Amélia da Silva Machado para Fabrício. Ela também contou que o policial informou que não serão avisados da próxima vez, porque todos já receberam ofícios e estão cientes da situação. 

    Essa informação causou ainda mais temor nas pessoas, que continuaram no local após a ida dos policiais. Maria José Olavo mora há 18 anos às margens da rodovia e era uma das moradoras que estavam à frente lutando pelo propósito. Uma outra questão que intriga os moradores da região é o atendimento das concessionárias de água, energia além de terem saneamento básico. “Há, pelo menos, 10 anos existe essa falta de respeito com a gente e agora a Polícia disse que vai derrubar com ou sem barricada. Pagamos luz, água e temos rede de esgoto, só não temos dignidade de ficar aqui”, diz.

    Marlene de Freitas mora no km 83, na rua Rosalina Virgínia Carvalho, Quitandinha, legalizada pela prefeitura em janeiro de 2000, e contou que mesmo com a casa registrada está dentro das ações de demolição. “Eles não têm respeito. Há muitos anos pago IPTU e é tudo documentado. A comunidade Agnela também faz parte das ações de demolição movidas pela Concer”, fala.


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