• Ciclismo: bom para a saúde, ideal para o meio ambiente e uma alternativa para minimizar os problemas no trânsito da cidade

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  • 07/11/2016 09:45

    Faz bem para a saúde, não polui o meio ambiente e diminui o número de carros nas ruas. Esses são apenas alguns benefícios do ciclismo, uma atividade que já é adotada por várias cidades como alternativa viável de transporte diário. Em Petrópolis, o número de adeptos cresce a cada dia, no entanto, os desafios ainda enfrentados são grandes e vão desde à falta de ciclofaixas e ciclovias até a falta de respeito por parte de alguns motoristas. A ciclofaixa localizada na Avenida Barão do Rio Branco foi uma vitória para os ciclistas, mas, os que a utilizam com frequência, reclamam de alguns motoristas que não respeitam as normas do Código de Trânsito. O Código garante que os ciclistas devem ser respeitados pelos motoristas. 

    De acordo com o site Eu vou de bike, no Brasil, existem algumas cidades que incentivam o uso da bicicleta como Aracajú, Santos, Sorocaba, São Paulo, Rio de Janeiro. Nesses lugares, a bicicleta é altamente utilizada como meio de transporte diário para o trabalho. 

    O ciclista José Albino, conhecido como "Bininho", usa a bicicleta como transporte todos os dias para chegar ao trabalho, no Alto da Serra. "Foi por conta de uma recomendação médica que comecei a pedalar. Juntei o útil ao agradável", afirmou.

    Jarbas Braga tem 47 anos e é adepto ao ciclismo desde os cinco anos de idade. Ele também é voluntário do site  "bikeanjo.org".  São 35 anos usando a bicicleta para lazer, transporte urbano e esporte. "Fui o primeiro aluno do colégio a ir de bicicleta para a escola aos 12 anos. Depois treinei e participei de corridas de BMX, quando tínhamos uma pista no Bingen", disse Jarbas.

    Apaixonado pela causa, Jarbas conta que participou de reuniões e grupos de trabalho no Comutran – Conselho Municipal de Transporte. "No pré-projeto sobre mobilidade urbana tem alguma referência para o ciclismo, ou seja, alguma proposta para viabilizar o uso das bicicletas como transporte e o ajuste de lugares e vias para esse uso. Os projetos do PAC de mobilidade tinham sim áreas e estruturas reservadas para o ciclismo, favorecendo tanto aqueles adeptos da bike por esporte, quanto só os que desejam utiliza-la como meio de deslocamento diário. Havia intervenções especialmente para bikes previstas no Quitandinha, Bingen e Barão do Rio Branco, mas infelizmente estes recursos foram perdidos. Agora é esperar para ver se conseguiremos reavê-los e se as alterações de fato serão realizadas", contou Jarbas.

    O ciclista José Luíz Rocha utiliza a bicicleta como esporte desde 2001. Segundo ele, a mobilidade urbana dentro da proposta do ciclismo tem que prever mudanças de hátitos, também. "Teríamos que ter bicicletários nas empresas e duchas para tomar banho antes do trabalho. Teríamos que ter fiscalização que multasse os motoristas que não respeitam os ciclistas. É raro algum motorista reduzir a velocidade quando passa pelos ciclistas e muito menos manter uma distância segura. Temos que ter maior educação dos motoristas com relação a convivência com os ciclistas", contou.   

    O prefeito eleito, Bernardo Rossi, anunciou na semana passada que começou os contatos com deputados para buscar emendas a serem apresentadas no Orçamento da União para beneficiar Petrópolis. Ele disse ainda que vai aproveitar o prazo que foi prorrogado para a apresentação do plano de mobilidade para apresentá-lo e com isso recuperar R$ 50 milhões que estavam perdidos.



    A opinião dos atletas profissionais

    Para o piloto de Montain Bike petropolitano, Henrique Avancini, campeão pan-americano de mountain bike XC, o uso da bicicleta é comprovadamente o meio mais eficiente para transporte em cidades de médio e grande porte. "Existem três esferas a serem consideradas. A primeira é a bicicleta como uso de lazer. Possuímos poucos espaços dedicados a esse fim e os que existem, possuem boa aceitação. A segunda é em relação ao ponto mais significativo que é o uso como meio de transporte. A cidade é repleta de vales e trechos que são facilmente pedaláveis. Qualquer cidade no mundo que tenha uma visão moderna, já aplicou e comprovou o reflexo positivo na implantação de uma politica de uso da bicicleta. E já temos vários exemplos em países desenvolvidos e em países em desenvolvimento. Portanto é aplicável e gera benefícios independente do padrão da nação. A terceira esfera é em relação ao esporte. Temos um paraíso natural a disposição para ser usado e gerar frutos para a cidade. Não possuímos uma politica de incentivo, informações ou um plano de uso de nossas áreas verdes. Existem inúmeros exemplos de cidades que possuem a maior parte da economia gerada pelo uso da bicicleta como meio esportivo. Possuímos um patrimônio natural excepcional, pronto para ser usado de maneira consciente, gerando frutos para a cidade. Grande parte das principais equipes nacionais do Mountain Bike fizeram aclimatação em Petrópolis antes dos Jogos Olímpicos e o que mais os surpreendeu foi a qualidade do local e como isso era desperdiçado. Petrópolis possui um potencial enorme para o uso da bicicleta e espero que a nossa cidade enxergue isso o quanto antes", disse.

    Henrique Avancini, afirma que a ciclofaixa localizada na Avenida Barão do Rio Branco é um começo ."É a forma mais fácil de ser implantada numa cidade de transporte integrado. A ciclofaixa funciona bem pois é um meio compartilhado, ou seja, não é exclusivo do ciclista. Desta maneira a ciclofaixa atua como um meio educador do trânsito. O motorista pode passar por ali, porém a preferência é do ciclista. Algo que me incomoda é a insistência de motoristas usarem o espaço da ciclofaixa como estacionamento. A ciclofaixa é um espaço de trânsito compartilhado, e não um espaço que pode ser utilizado incorretamente como vaga de estacionamento. O motorista pode passar por ali, mas não pode impedir a utilização do espaço pelo ciclista porque estacionou seu automóvel no espaço", disse.

    Avancini dá outras dicas para os ciclistas: "Seja consciente! O ciclista tem direito de usar as vias públicas e possui preferência em relação a veículos automotores.

    Procure saber sobre seus direitos e deveres. Não é lei, porém é necessário e prudente, sempre usar capacete", afirmou.

    O petropolitano Wolfgang Soares, atleta profissional de Mountain Bike Cross Country Olímpico, também acredita que há a necessidade de se instalar mais ciclofaixas na cidade. "Acredito que já foi um bom passo a demarcação da ciclofaixa na Avenida Barão do Rio Branco, porém,  não há dúvidas que é necessário mais ciclofaixas e ciclovias pela nossa cidade. Teoricamente essa linha é para proteger a nós, ciclistas e definir uma área no trânsito para as bicicletas. Porém, ciclofaixa é uma via compartilhada, tendo como preferência o fluxo das bicicletas e se necessário os carros passam por ela, mas o que acaba acontecendo é que os carros estão ficando estacionados nela", disse.

    Sobre a importância da cidade investir no ciclismo, Wolfgang é categórico. "Não tenho dúvidas, pelos pontos esportivo, sustentável e econômico. A nossa cidade é considerada um berço de atletas de Mountain Bike no cenário nacional, existe uma tradição desde que o MTB chegou em nosso país, quando Petrópolis recebeu uma das primeiras competições do Brasil, no Vale Das Videiras no início da década de 90. Vale ressaltar que um petropolitano, Luiz Rodegheri, venceu uma das três etapas da prova.

    De lá para cá, surgiram e surgem grandes nomes na região. Por isso deve-se incentivar a prática. Outro ponto é que o uso da bicicleta é sinônimo de desenvolvimento. Podemos usar exemplos de países desenvolvidos que incentivam o uso da bicicleta em diversos setores, construindo muitos quilômetros de ciclovias, ligando a todos os ponto da cidade, oferecendo principalmente segurança. Assim, o governo estimula o uso da bicicleta e diminui gastos com remédios e saúde. Outro exemplo são as indústrias, que pagam aos seus funcionários por cada quilômetro pedalado de casa até o trabalho, um incentivo extra para o trabalhador, investimento que é completamente revertido para a indústria, pois seu funcionário está se exercitando, melhorando sua saúde, reduzindo os níveis de estresse e chegando mais rápido no trabalho. Com isso, o trabalhador diminuirá as chances de ficar doente, assim faltará menos ao serviço e terá mais vigor em suas tarefas, estará mais bem humorado e mais uma vez aumentando seus rendimento no serviço e não ficará preso no trânsito, chegando no horário em seu trabalho. Os ganhos são imensuráveis e todos saem ganhando, menos trânsito nas ruas, ar menos saturado, menos consumo de combustíveis e menos poluição", disse.


    Ciclofaixa na Avenida Barão do Rio Branco

    A ciclofaixa localizada na Barão do Rio Branco foi inaugurada em maio de 2014. Muitos ciclistas utilizam a ciclofaixa diarimente e a consideram um ganho para todos. No entanto, o fato de alguns motoristas de carro estacionarem em alguns pontos da via e de motoristas ônibus, que não respeitam a ciclofaixa, desanimam alguns deles.

    De acordo com Jarbas, na ciclofaixa, os motoristas devem ficar atentos aos direitos dos ciclistas. "Na Barão temos uma ciclofaixa, pois é compartilhada, não uma ciclovia. Os carros podem andar dentro da ciclofaixa sem problema nenhum, porém quando houver ciclista nela, o motorista tem que diminuir a velocidade para uns 35 a 40km/h e ultrapassar o ciclista com o seu veículo por fora da ciclofaixa. Após a colocação da ciclofaixa, das pinturas no asfalto, de bicicletas brancas e das placas nos postes ao longo da ciclofaixa, melhorou muito a segurança para os ciclistas, que passaram a ter seu espaço preservado. Outras vias também deveriam ter essa sianlização, como Estrada União Indústria, Washington Luíz, Coronel Veiga, a via de dentro que liga Corrêas, Samambaia, Cascatinha, Itamarati ao Centro e Estrada da Saudade", conta.

    Gabriel Lemgruber, 21 anos, estudante, adepto do ciclismo usa a bicicleta como transporte e também como esporte. "O trajeto que costumo fazer como transporte é da minha casa em Bonsucesso até a rua Buenos Aires. Percorro maior parte da União e Indústria e um dos maiores problemas é a falta de espaço nas vias, os ciclistas em alguns trechos, são obrigados a se espremer entre o meio-fio e os carros, e o desrespeito é recorrente, muitas fechadas, carros que tiram fino da bicicleta e tem havido alguns atropelamentos, isso mostra que a maioria dos motoristas não conhecem a legislação de trânsito voltada ao transporte em bicicleta. Tal segurança é o que pode atrair mais pessoas a usarem a bicicleta como meio de transporte e é uma alternativa para melhorar o inchaço no trânsito em Petrópolis, que está se tornando um problema", explica.

    As empresas de ônibus informaram que existem treinamentos de direção segura e defensiva para os motoristas que tem como principal objetivo prevenir e evitar acidentes em todas as vias. Porém, há um alerta específico para as linhas que trafegam na Avenida Barão do Rio Branco e também em estradas onde há fluxo intenso de travessia de pedestres e sem calçadas adequadas. No caso da Barão, o Setranspetro considera que a via oferece riscos uma vez que a estrada tanto em direção ao Centro, quanto Itaipava, não possui espaço suficiente para o tráfego de carros, ônibus junto a bicicletas e pedestres. O Sindicato considera que é fisicamente impossível que os coletivos não invadam a ciclofaixa em alguns trechos, como em curvas. Destaca, por fim, que o assunto já foi tratado por diversas vezes no Conselho Municipal de Trânsito, onde as empresas alertaram para os principais riscos da via. 


    Dicas e as normas do Código Brasileiro de Trânsito

    No que diz respeito à segurança dos motoristas e ciclistas, o Código Brasileiro de Trânsito prevê normas gerais de circulação e conduta. Segundo o código, os veículos de maior porte serão sempre responsáveis pela segurança dos menores, os motorizados pelos não motorizados e, juntos, pela incolumidade dos pedestres. As regras ditam ainda que os motoristas devem ceder passagem aos pedestres e ciclistas e que os ciclistas têm preferência nas vias urbanas e ruas de pista dupla quando não houver ciclovia, ciclofaixa ou acostamento. 

    Dicas para os ciclistas: nunca trafegar na contramão. Na calçada, o ciclista deve portar-se como pedestre, andando e empurrando a bicicleta. É indispensável o uso de equipamentos de segurança como luvas e capacete; o ciclista deve fazer de tudo para ser visto, sinalizando com as mãos suas manobras e direção. 

    Dicas para os motoristas: ao ultrapassar a bicicleta, reduza a velocidade e mantenha distância do ciclista; repeite o ciclista mesmo quando não houver ciclovias ou ciclofaixas. Na ciclofaixa, a preferência é do ciclista, olhe para os dois lados antes de abrir as portas do carro, fiquem atentos aos sinais dos ciclistas.

    Jarbas pede aos ciclistas para curtirem a página: fb.com/Mobi.Ativa.

    "Estaremos compartilhando ideias, ações e realizando pesquisas para elaboração de um plano junto aos técnicos de trânsito, planejamento, urbanismo, prefeitura e demais órgãos competentes para melhorar o trânsito através do incentivo ao transporte ativo e mobilidade ativa, ou seja, principalmente para melhor conforto e segurança do pedestre e do ciclista, incentivando que os ônibus possam ter espaço para bicicletas, seja dentro ou fora em racks na frente e/ou atrás do ônibus. Isso ajudaria demais a descongestionar o trânsito, pois o maior vilão são os carros que ocupam muito espaço e em sua grande maioria levando somente um ou duas pessoas", contou.


    Alternativa: Cicloturismo

    A movimento Corrêas Sustentável defende a implantação do cicloturismo em Petrópolis. De acordo com Elena Welper, antropóloga colaboradora do Movimento Corrêas Sustentável, o cicloturismo é uma proposta voltada para o fortalecimento do turismo ecológico e histórico, na medida em que fomenta novos atrativos e rotas, de forma sustentável.

    "Uma ciclovia interligando os distritos potencializa o turismo histórico da cidade, visto que percorre um trajeto ligado a história “ pré-imperial” ao mesmo tempo que permite a apreciação de paisagens e a utilização de eventuais serviços e comércios que estejam no caminho. Além do fomento ao turismo eco-histórico, o cicloturismo tende a contribuir para a qualidade de vida geral da população na medida em que promove hábitos saudáveis e cria valor econômico ao meio ambiente. Neste sentido é uma iniciativa de promoção do desenvolvimento sustentável", disse Elena.

    Sobre os obstáculos que o cicloturismo enfrenta na cidade, Elena aponta a engenhaira dos projetos. "Creio que o objetivo geral seja criar ciclovias seguras em rotas que permitam a exploração turística mas também sirvam para a mobilidade dos moradores da cidade. Sobre os obstáculos creio que o maior obstáculo para a realização de ciclovias de turismo na região foi o fato de que todos os projetos aventados pretendiam uma rota de difícil engenharia, isto é: margeando a estrada união indústria, do centro a Itaipava. Neste sentido, a justificativa para a falta de ciclovia foi sempre a topografia, o que de fato pode ser verdade para o trecho do Retiro a Samambaia, por exemplo. Mas, de Corrêas para Itaipava, por sua vez, não há obstáculos geográficos. Em suma, acho que faltou estudos de rotas alternativas que não tivessem que cumprir o papel de ligação ininterrupta entre o centro e os distritos", conta.

    O advogado Leandro Rodrigues, de 46 anos, usa a bicicleta como esporte e lazer. "Comecei a usar a bicicleta para combater crises hipertensivas derivadas do estresse, que nunca mais tive graças ao pedal em minha rotina. O município poderia explorar o segmento do cicloturismo, haja vista as inúmeras trilhas e trajetos em Secretário, Vale das Videiras, Araras, Rocio, Posse e Vale do Cuiabá. Temos o melhor garoto propaganda que é o melhor montainbiker brasileiro, o petropolitano Henrique Avancini, sem falar que o campeão olímpico de montainbike no Rio de Janeiro, Nino Schurter, utilizou nossas trilhas como preparação, postando em sua rede social que adorava treinar aqui, mais um motivo para o município aproveitar tal gancho. Para tanto é necessário mapear essas trilhas, confeccionar placas de orientação e manter disponível uma linha de emergência para socorro dos acidentados. Com isso o município ganharia em receita com hotelaria e restaurante", disse.

    Para o advogado, o uso das bicicletas poderia gerar outros ganhos também. "Alguns municípios já concedem desconto no IPTU para quem usa a bicicleta para o trabalho. Outros fornecem incentivo para que as empresas concedam um dia de folga para o trabalhador que usar a bike durante todo mês de trabalho. É importante salientar que o uso da bicicleta ajuda o meio ambiente posto que não polui e ajuda a combater a obesidade e doenças consequentes".





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