• Casa Pellegrini: um nome que resiste ao tempo

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  • 13/05/2018 09:00

    Quando o assunto é gastronomia, sabores e memórias andam lado a lado. Em Petrópolis, um imigrante italiano fez da Cidade Imperial sua casa a partir da produção de massas caseiras. O pequeno armazém, que abastecia outras famílias vindas da Itália, foi pioneiro no ramo e se transformou, mais tarde, na fábrica da tradicional Casa Pellegrini. 

    Luiz Pellegrini veio de Polignano a Mare, cidade ao sul da Itália, e trabalhou por alguns anos na Companhia Petropolitana de Tecidos, em Cascatinha. Como aponta o Dr. Enrico Carrano, membro eleito do Instituto Histórico de Petrópolis, havia uma grande concentração de imigrantes no bairro por conta do interesse no trabalho remunerado da indústria.

    “A Companhia Petropolitana foi a maior indústria têxtil do Brasil. Ela se instalou em Cascatinha para aproveitar a queda d’água como força motriz. Assim, os tecelões podiam trabalhar nos teares. A fábrica tinha muitos funcionários italianos que, diferente dos colonos alemães, não atuavam na agricultura”, explica ele.

    Augusto Pellegrini, bisneto do italiano, conta que, diante de famílias ítalo-brasileiras, Luiz passou a importar produtos e, percebendo uma crescente demanda, abriu a primeira fábrica local de massas frescas.

     “O empreendimento teve como principal endereço a atual Rua do Imperador, ao lado do prédio dos Correios, até meados da década de 60. Enquanto na parte da frente havia o armazém, ao fundo estava a fábrica de massas”, conta. Após o falecimento do comerciante, em 1954, o terreno precisou ser vendido e a edificação, de construção eclética, com arcos romanos, varandas e janelas bem decoradas, demolida para dar lugar ao Edifício Pellegrini. 



    Segundo o arquiteto e historiador da arte e arquitetura Luciano Cavalcanti, é preciso evitar ao máximo a deterioração não só estética, como também de caráter histórico das estruturas. 

    “O prefeito Cardoso de Miranda baixou em 1940 um decreto proibindo a construção de arranha céus na cidade, medida que não deve ter sido aprovada pela Câmara, já que o prédio é visivelmente dos anos 50 para 60 do século passado. Essas extravagâncias já não podem mais ser feitas no Centro Histórico, então temos que manter o que permaneceu, cujo valor é incalculável para a economia turística da Cidade Imperial”, explica ele.

    A antiga edificação deixou de existir faz tempo, mas não a importância em dar sequência à tradição. Pensando em resgatar o patrimônio herdado do bisavô, os irmãos Augusto e Antônio decidiram, há três anos, resgatar a logomarca e abrir o restaurante Casa Pellegrini. Para a surpresa dos dois, antigos clientes foram atraídos pelo nome. 

    “Muita gente nos pergunta se ainda temos uma buzina que, aparentemente, era típica de um carro da Casa Pellegrini que vendia massas nos bairros. Como nos filmes, bastava tocá-la para as pessoas o identificarem. Naquela época, o transporte era mais difícil, então as pessoas não vinham ao Centro fazer compras. Daí a ideia de realizar essa venda itinerante”, revela Augusto. 

    Desde que o negócio teve início, em 1898, registros únicos estiveram nas mãos da família, como uma nota fiscal de 1904, hoje emoldurada no estabelecimento, e um livro de receitas de 1970, tesouro da chef de cozinha Cristina Pellegrini, mãe de Augusto e Antônio. Ela, que desde pequena demonstrou interesse pela culinária, conta que auxiliou os filhos na elaboração do cardápio da Casa. 

    "Fiz meu primeiro curso de gastronomia em 1974, com minhas tias Nina Kallenbach e Luisa Lemos e, de lá para cá, não parei mais. Inclusive, dois dos molhos do restaurante, criados por mim, são homenagens aos meus avós. O de carne assada leva o nome ‘Vito Luigi’ e o outro, de gorgonzola, alho-poró e amêndoas foi feito em dedicação à minha avó, Teodósia L’Abbate”, conta ela, orgulhosa.

    Para os Pellegrini, nada se compara à paixão pela boa comida. Afinal, não é à toa que a cozinha é considerada o habitat de uma família italiana.

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