• A visão de uma estrangeira

  • Continua após o anúncio
  • Continua após o anúncio
  • 28/05/2018 12:50

    A poetisa carioca Carmen Cinira (1902-1933) com seus poemas bem profundos, tinha a sensação deles serem de efeito mediúnico, já que era kardecista e de se ter projetado com rapidez na sua idade, uma vez que, seu segundo livro foi prefaciado por Osório Duque Estrada . E tais fatos justificavam sua crença, mas como disse Arthur Rimbeaud: – “O poeta faz-se vidente através de um longo, imenso e sensato desregramento de todos os sentidos”  

    Por isso, a poetisa norte-americana, Elizabeth Bishop (1911-1979), que aqui morou entre as décadas de 1950 e 1960 – ninguém sabe se possuía tal poder, mas foi visionária quando, mesmo “amando o Brasil com olhos mais fundo que nós” , como definiu Arnaldo Jabor numa crônica, disse, na década de 1960, como premonição: “

    “Como país, acho que o Brasil não tem saída – não é trágico como o México, é apenas letárgico, egoísta, autocomplacente, meio maluco. Um País onde a gente se sente de algum modo mais perto da verdadeira vida de antigamente. (…) Com todos os seus horrores e estupidez, uma parte do mundo perdido ainda não se perdeu aqui, mas perdeu a inteligência e a consciência moral. Não há princípio que não seja desmentido nem instituição que não seja escarnecida. Já não se crê na honestidade dos homens públicos. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. Os serviços públicos abandonados a uma rotina dormente. O desprezo pelas ideias aumenta a cada dia. A ignorância pesa sobre o povo como um nevoeiro. A intriga política alastra-se por sobre a sonolência enfastiada do País. Não é uma existência; é uma expiação”.

    Em outras palavras, de maneira mais aberta e expansiva, retrata o que sempre deixo à mostra em minhas crônicas e minha visão do comportamento geral, com raras exceções. Uma antevisão perfeita que se agrava a cada momento, a cada situação decepcionante, muito pior do que ela imaginava há mais de 60 anos – para nossa vergonha perante o exterior. 

    Lembro-me perfeitamente quando, na firma em que trabalhava, o diretor-preresidente presidente entrou no escritório geral, comunicando o suicídio de Vargas, determinado encerramento o expediente. O chefe do escritório, Sr. Clebsch, teve uma única reação: “ Barbaridade! Que repercussão no exterior!”. Uma reação instantânea, de ética e respeito, como era de se esperar de dois alemães diante da tragédia – um comportamento diferente dos demais que não conseguem alcançar tal diferença. 

    Enfim, uma análise antecipada do que vemos hoje em dia, mesmo envergonhados, que somos obrigados a aceitar e baixar a cabeça, batendo no peito, “mea culpa” . Uma realidade irrefutável – é lamentável!

    jrobertogullino@gmail.com



    Últimas