• A fábula do projeto frangalho

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  • 08/02/2018 12:30

    Em um galinheiro igual a tantos cercados que existem pelo globo terrestre, funciona uma sociedade galinácea, parecida àquela dominada pelos chamados racionais humanos. Em tudo o galinheiro acompanha a elevada e desenvolvida organização daqueles que pensam e não possuem, como os galináceos, escrementoses no cérebro. Talvez um material fecal bem pior, o que não vem ao caso. Ou vem ao caso, sim senhor, porque, a fugamentação dos neurônios funciona da mesma forma.

    Pois, muito bem, a comunidade galinácea resolve que fará uma reforma previdenciária, visto que as leis e regulamentos sobre o tema, privilegiam os mais emplumados e deixam no fétido pau do galinheiro, os pintos, os adolescentes frangotes, as galinhas jovens cheias de roda-roda, os decrépitos ex-emplumados, enfim, a quase totalidade da comunidade có-có-có.

    Os galos majestosos dominam absolutos a grandeza do galinheiro e desfilam emproados pelos espaços suntuosos, cercados de galotes e galinhas ciscadoras prontas para as bicadas pessoais ou corporativas. Os poderosos emplumados são candidatos nas próximas eleições e prometeram aos galinheiros próximo e distantes uma seleção de privilégios e sinecuras de embranquecer qualquer crista por mais rubra que seja.

    Lança-se no projeto da reforma previdenciária, um comedouro feito para agradar os eleitores, subjugados pelos malfeitos do caráter dominante, embora se saiba que galináceo o que faz muito bem é triturar o milho in natura em suas poderosas moelas e largar o produto final em qualquer espaço de sua circulação.

    A dita reforma, apresentada em alentado projeto, é bem-aceita porque mexe com as injustiças, melhora os ganhos, garante a sobrevivência dos contribuintes em suas aposentadorias, antes, é claro, da chegada da cozinheira com seu facão.

    O cocoricó se instala e logo os emplumados não querem esse ou aquele quesito, que lhes tira vantagens, próprias e de galinhas consortes ; um outro grupo, plantador de milho, não aceita aposentar seus trabalhadores antes de serem retiradas totalmente suas penas ; terceiros só aceitam tudo o que a eles privilegia e abominam direitos legais e justos para toda a comunidade; poedeiras querem igualdade na comercialização dos ovos e não aceitam mais o sofrimento de pôr os ovos e querem dispositivos que inseminem os galos para que eles também possam sofrer aquele lapso feliz da délivrance. E, assim por diante, e nada caminha conforme o projeto inicial.

    O galo, de cima do poleiro, quer porque quer a reforma da previdência para que sua gestão entre para a história e atenda a todos os correligionários políticos candidatos nas eleições e suas ramificações de postos em sinecuras de arrepiar as penas de baixo, aquelas que são permeáveis.

    Ai o clima do galinheiro vira bagunça global e o tal projeto fica tão retalhado, tão em frangalhos, que gera imensa confusão ao ponto do estabelecimento geral de um clima de loucura e insanidade, de dar pena, enquanto as penas dos galináceos voam pelos ares como um artefato desses utilizados para acabar guerras.

    Nas proximidades do grande galinheiro, parte de um poleiro desaba em protesto ou para desviar as atenções, enquanto o galo mestre, com enorme tesourão, retalha daqui, corta ali, estripa o raio do projeto em mil e uma penas e para conseguir votos, manda sacos de ração para todos os galinheiros que têm representantes para votar e querem continuar exercendo suas funções públicas através do voto da galinhada.

    O infeliz projeto previdenciário chega ao congresso galináceo em frangalhos, depenado, recortado, esbulhado de sentido e sob o princípio básico do conchavo em nome da democracia, aquela do me dá senão não te dou.

    O poleiro nacional, envergonhante, não perde a pose e galos antigos se reapresentam candidatos e, assim, lá se vai o galinheiro para o espaço quando os políticos arrancam suas penas de galináeos e se apresentam na sua realidade de raposas.

    E todos sabem como é a festa das raposas quando entram no galinheiro !

    E, pior, quando há muito elas já se encontram no galinheiro!

    Moral da fábula: A imoralidade só é conquistada com a própria imoralidade.

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